Pergunta:
Vejo com frequência as locuções «face a» e «frente a» em textos da mídia e até em textos acadêmicos , inclusive de alunos de letras.
Sei também que [Celso] Luft, no Dicionário de Regência Nominal abona essa expressão assim como «frente a».
Gostaria de saber se o uso de «face a» e «frente a» já está liberado em textos formais?
Grato pela resposta e parabéns pelo belo serviço de vocês.
Resposta:
Ambas as locuções prepositivas são hoje aceitáveis do ponto de vista normativo.
É verdade que o gramático brasileiro Napoleão Mendes de Almeida1 (1911-1998) as condenava como erros graves. Contudo, Maria Helena de Moura Neves, no seu Guia de Uso do Português (2003), apesar de referir que «as lições tradicionais não recomendam a expressão "face a" ("em face de, ante")», observa que «ela é de uso corrente, e não apenas na linguagem popular». Sobre «frente a» no sentido «em face de, ante, perante», a mesma autora assinala que é expressão vista como castelhanismo por puristas, mas tem emprego corrente.
Acrescente-se que, em dicionários recentes elaborados em Portugal, as locuções «face a» e «frente a» têm registo desigual. No dicionário da Academia das Ciências de Lisboa, estão consignadas como subentradas, respetivamente, de face e frente; mas não figuram nem no Dicionário Infopédia nem no Dicionário Priberam2.
Em conclusão, apesar das reservas, não é incorreto o uso de «face a» e de «frente». Mesmo assim, para quem leve a peito essas reservas, existe como alternativa a locução em face de, que não tem tido censura normativa, ou as preposições ante e perante.
P.S. — Os nossos agradecimentos pelas palavras gentis do consulente.
1