Pergunta:
Há muita gente que tem dificuldade em empregar o verbo haver no sentido de «existir». Não é raro, antes pelo contrário, ler-se, sobretudo nas redes sociais, «Inaugurado "a" 5 anos», ou «li o livro "à" muito tempo».
Ora, tenho verificado que alguns escreventes, na dúvida, optam por substituir haver por fazer, tal como os brasileiros. Por exemplo, «inaugurado faz 5 anos», ou «li o livro faz muito tempo».
A minha pergunta é: está correcto este emprego do verbo fazer?
O consulente segue a norma ortográfica de 45.
Resposta:
A construção temporal com faz , relativa ao tempo decorrido, é correta e encontra-se atestada em várias fontes, incluindo dicionários elaborados em Portugal, como se pode verificar pelos seguintes exemplos:
(1) «Faz um mês que ele chegou» (Mário Vilela, Dicionário do Português Básico, Porto, Edições Asa, 1991, s. v. fazer).
(2) «Faz duas horas que estou aqui à espera» (Academia das Ciências de Lisboa, Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, 2001, s.v. fazer).
(3) «Já faz um ano que não o vejo» (J. Malaca Casteleiro, Dicionário Gramatical de Verbos, Lisboa, Texto Editores, 2007, s.v. fazer).
Trata-se de uma construção equivalente à construção com há – «há um mês/duas horas/um ano» –, embora seja mais corrente no Brasil1 do que em Portugal. Convém, aliás, acrescentar que há falantes de Portugal que só aceitam frases como (1) desde que nelas ocorra «um advérbio ou locução adverbial que introduz o momento de referência»2. Por outras palavras, tais falantes preferirão «faz hoje um mês que ele chegou»3.
Este uso parece decorrer de uma diferença entre a locução introduzida por há («há um mês») e a introduzida por faz («faz um mês»): com há, o momento de referência é o tempo da enunciação, isto é, o tempo em que o falante produz o enunciado (ex.: «o Pedro casou-se com a Joana há...