Carlos Marinheiro - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Marinheiro
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Carlos Marinheiro (1941–2022). Bacharel em Jornalismo pela Escola Superior de Meios de Comunicação Social de Lisboa e ex-coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa. Colaborou em vários jornais, sobretudo com textos de análise política e social, nomeadamente no Expresso, Público, Notícias da Amadora e no extinto Comércio do Funchal, influente órgão da Imprensa até ao 25 de Abril.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Se alguém disser "antiguismo" em vez de antiquíssimo, pode-se considerar correcto, ou é claramente errado?

E ainda — «a sala está limpada» em vez de «a sala está limpa»! Também é disparate, não?

Muito obrigada.

Resposta:

"Antiguismo" é variante de "antiguíssimo", por sua vez, forma não normativa de antiguíssimo. No português europeu dialectal, o sufixo -íssimo ocorre ou ocorria como "-ismo", com síncope do i, em paralelo com o que também sucede nos dialectos galegos, conforme se descreve Ricardo Carballo Calero na Gramática Elemental del Gallego Común (Vigo, Editorial Galaxia, 1976, pág. 176, n. 15):

«El pueblo refuerza a menudo el elativo [=superlativo absoluto] en -ísimo con el adverbio moi: moi grandísimo, y esta forma redundante es más usada que la forma culta sola. En ésta, suele caer la i postónica: grandismo, moi grandismo, tanto más facilmente cuanto más énfasis se pone en la pornunciación, como en las exclamaciones, pues el mayor relieve de la sílaba tónic acentúa la relajación de la vocal átona siguiente: ¡Maria Santisma!»

Não se trata, portanto, de nenhum derivado de antigo, formado com o sufixo -ismo.1

Sendo "antiguismo" um dialectalismo, e "antiguíssimo", forma não aconselhável, deve usar-se antiquíssimo», superlativo absoluto sintético de antigo (cf. Celso Cunha e Lindley Cintra, Nova Gramática do Português Contemporâneo, Lisboa, Edições João Sá da Co...

Pergunta:

Gostaria de saber o significado do provérbio: «Lançar foguetes, fazer a festa e apanhar as canas.»

Resposta:

A expressão que encontrei, no Dicionário de Expressões Correntes, de Orlando Neves, edição da Editorial Notícias, é «Fazer a festa e deitar os foguetes (e correr atrás das canas)». Significa «alegrar-se sozinho com algo de que se é autor».

Pergunta:

Poder-me-ão esclarecer acerca da diferença semântica entre os termos culinária e gastronomia?

Grata pela atenção.

Resposta:

A culinária é a «arte de cozinhar» ou o «conjunto dos pratos característicos de determinada região»; por sua vez, a gastronomia é a «arte de cozinhar com o objetivo de proporcionar o maior prazer aos que comem»; «conhecimento e apreciação dos prazeres da mesa»; ou «comida típica de determinada região».

Existe assim uma evidente sinonímia entre as duas palavras, o que torna a significação muito próxima, levando à escolha de um ou outro termo em determinados contextos, sem alteração do sentido da frase.

Já agora, lembremos o termo que designa aquele que «gosta de comer bem»: gastrófilo (do grego gastróphilos, «amigo do seu ventre»).

[Fonte: Grande Dicionário da Língua Portuguesa, da Porto Editora, 2010 + Infopédia]

Pergunta:

«A LITERATURA INFANTO-JUVENIL: BIBLIOTERAPIA E SEXUALIDADE NA ESCOLA»

Copiei para este espaço o título com a minha dúvida, que é a seguinte:

A palavra "biblioterapia" está bem "encaixada"?

Não a encontro no meu dicionário, embora me pareça significar «cura pelos livros».

Agradeço o vosso comentário e informação.

Resposta:

A palavra biblioterapia significa, em psicologia, «emprego de livros e de sua leitura no tratamento de distúrbios nervosos»; quer dizer ainda, em bibliologia, «tratamento de livros avariados por insetos ou por outros fatores; biblioterapêutica». Geralmente, a acepção usual é a primeira, pelo que me parece que, no contexto apresentado, a palavra está bem "encaixada".

O elemento de composição bibli(o)- é «antepositivo, do gr[ego] biblíon, ou "papel de escrever, carta, lousa, tábula de escrever e (num esboço evolutivo) livro" e, no pl., "os livros santos, a Bíblia"; em lat[im], já Cícero (106-43 a. C.) emprega bibliothēca, ae, "lugar em que se guardam livros, biblioteca", aparecendo mais tarde bibliopōla, ae, "o que vende livros, livreiro, bibliopola", bibliotecālis,e, "bibliotecal", bibliothecarius, ĭi, "o que tem a seu cargo a guarda e conservação duma biblioteca, bibliotecário"; a primeira doc[umentação] no vern[áculo] (bíblia) é do sXIV, erguendo-se aos poucos os der[ivados] e comp[ostos] ao longo da história documental da língua: bíblia, bibliocanto, biblioclasta, bibliocromia, bibliofagia, bibliofilia, bibliofilmar, bibliófilo, bibliofobia, bibliografar, bibliografia, bibliolatria, bibliologia, bibliomania, bibliométrico, bibliônimo, bibliopéia, bibliopola, bibliorréia, bibliosofia, bibliótafo, biblioteca, bibliotecário, bibliotecologista, bibliótica etc.»

[Fonte: Dicionário Eletrônico Houaiss]

Pergunta:

«Corónimo é um nome designativo de continente país, região, pátria, estado, província, divisão administrativa qualquer (abrangido pela toponímia ou geonímia).

Dentro dos corónimos há as coronimias, que são a parte onomástica dedicada ao estudo e à etimologia dos corónimos.»

No blog ("blogue"? Ou "blogo"?) http://coronimosap.blogspot.com/ encontro definição de "corónimo" acima transcrita. Todavia, não encontro a palavra registada nos dicionários mais comuns. Ela existe, de facto?

Resposta:

Também não encontrei a palavra corónimo, da área da geografia, registada nos dicionários portugueses consultados. Em contrapartida, este nome (substantivo) aparece no Dicionário Eletrônico Houaiss, e trata-se, como diz, de «nome designativo de continente, país, região, pátria, estado, província, divisão administrativa qualquer (abrangido pela toponímia ou geonímia)».

Note-se que a coronímia (com acento agudo na sílaba -ni-) não é uma realidade subordinada aos corónimos. Trata-se, sim, da parte da onomástica dedicada aos corónimos, como também indica o Dicionário Houaiss: «parte da onomástica dedicada ao estudo e à etimologia dos nomes designativos de continente, país, região, pátria, estado, província, divisão administrativa qualquer (abrangido pela toponímia ou geonímia).»

Finalmente, refira-se que a grafia portuguesa de blog é blogue.