Carlos Marinheiro - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Marinheiro
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Carlos Marinheiro (1941–2022). Bacharel em Jornalismo pela Escola Superior de Meios de Comunicação Social de Lisboa e ex-coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa. Colaborou em vários jornais, sobretudo com textos de análise política e social, nomeadamente no Expresso, Público, Notícias da Amadora e no extinto Comércio do Funchal, influente órgão da Imprensa até ao 25 de Abril.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

As palavras conservação, preservação e salvaguarda são verdadeiramente sinónimas, ou é possível distinguir o significado de cada uma delas?

Resposta:

Se com «verdadeiramente sinónimas» quer dizer sinónimos perfeitos, digo-lhe já que não. Com efeito, em certos contextos, significam o mesmo, mas em outros já têm aceções diferentes.

Assim, conservação significa, por exemplo, «preservação contra dano, perda ou desperdício» («c[onservação] do solo»), ou, em ecologia, «conjunto de práticas que visa à utilização dos recursos naturais, de modo a permitir que se preservem e renovem», mas também quer dizer «conjunto de medidas permanentes para impedir que se deteriorem com o tempo objetos de valor, como monumentos, livros, obras de arte etc.»; e, na área da física, «lei (...) segundo a qual determinadas grandezas ou propriedades de um sistema físico não sofrem alteração, mesmo que entre os componentes individuais do sistema possa haver trocas nessas grandezas [A carga e o momento angular são exemplos de quantidades que se conservam]». Como termo jurídico, trata-se de «ação e efeito de guardar algo com a diligência devida, cuidando para que não se extinga ou deteriore ou deprecie pelo transcurso do tempo» ou «conjunto de medidas e práticas, periódicas e permanentes, que visam à proteção e à manutenção em bom estado de bens, monumentos e objetos pertencentes a instituições públicas ou privadas».

Preservação, além de ser o «mesmo que conservação», ainda é «série de ações cujo objetivo é garantir a integridade e a perenidade de algo; defesa, salvaguarda, conservação» («p[reservação] da democracia constitucional») ou, em ecologia, «conjunto de práticas, como o manejo planejado e programas de reprodução, que visa à manutenção de populações ou espécies».

Quanto a salvaguarda, trata-se de «proteção e garantia concedidas por autoridade ou instituição» ou «aquilo ou aquele que serve de garantia, de defesa, de amparo» («a lei é a s[alvaguarda]...

Pergunta:

Tenho a seguinte dúvida: qual a diferença entre imergir e emergir?

Resposta:

O verbo emergir («do lat[im] emergĕre, "emergir; sair da água"») significa, geralmente, «sair de onde estava mergulhado», mas ainda quer dizer «manifestar-se»; «despontar; assomar; elevar-se»; «acontecer; ocorrer»; e «resultar; advir».

A palavra imergir («do lat[im] immergĕre») é o antónimo de emergir, e quer dizer «mergulhar; submergir»; «penetrar»; e «afundar-(se)».

Assim, emergir (por exemplo, «sair da água») é o contrário de imergir (por exemplo, «mergulhar [na água]»).

[Fonte: Dicionário da Língua Portuguesa 2008, da Porto Editora.]

Pergunta:

Gostaria de saber qual o processo de formação da palavra primogénito.

Resposta:

A palavra primogénito vem diretamente «do latim primogenĭtu-» [in Infopédia].

Como adjetivo, primogénito significa «que foi gerado em primeiro lugar»; e, na qualidade de nome/substantivo, quer dizer «aquele que foi gerado em primeiro lugar; primeiro filho».

Pergunta:

Venho pedir esclarecimentos sobre as diferenças que existem entre as palavras largueza e largura.

Resposta:

Em alguns contextos, largueza é o mesmo que largura, mas, em sentido figurado, ainda quer dizer «excesso de provimentos e haveres; abundância, riqueza» ou (sXV) «comportamento perdulário; esbanjamento, dissipação» [in Dicionário Eletrônico Houaiss]. De uma pessoa, diz-se, por vezes, que «viveu sempre à larga» ou «com largueza», ou seja, com muito dinheiro para gastar (e esbanjar).

O Dicionário Prático de Locuções e Expressões Correntes, de Emanuel de Moura Correia e Persília de Melim Teixeira, edição da Papiro Editora, regista a expressão «com largueza», dizendo que significa «à grande; à larga; de grande». Assim, neste contexto, largueza não é o mesmo que largura. Além disso, diz-se, por exemplo, que uma mesa tem determinada largura, mas não se pode afirmar que ela tem uma certa largueza.

Largura é, geralmente, «dimensão perpendicular ao comprimento (plano horizontal) ou à altura (plano vertical)».

Pergunta:

Gostaria que me esclarecessem do seguinte: aceitam-se as duas grafias, urtiga e ortiga?

Resposta:

A Infopédia regista urtiga e diz que é, em botânica, «nome vulgar que designa diversas plantas herbáceas, pertencentes à família das Urticáceas, de folhas rugosas, elípticas e revestidas de pelos secretores de uma substância que provoca comichão e irritação ao entrar em contacto com a pele»; coloquialmente, «mandar às urtigas» é «não ligar nenhuma». A palavra deriva «do latim urtīca-, idem».

Em relação a ortiga, a mesma obra diz que é antiquado e tratava-se de «canhão que atirava pelouros de pedra»; em botânica, remete para urtiga, a forma preferível. Diz ainda que a palavra vem igualmente «do latim urtīca-».

O Vocabulário Ortográfico do Português (VOP), da responsabilidade do ILTEC, acolhe as duas formas.

O Aulete Digital regista urtiga, dizendo que é, em botânica, «nome comum às plantas do gên. Urtica, da fam. das urticáceas, que têm pelos que causam irritação à pele, cultivadas para extração de fibras ou para uso medicinal (...)». Quanto a ortiga, considera que é «forma popular e muito difundida, tanto em Port. como no Bras., de urtiga» ou «grande peça de artilharia que atirava pelouros de pedra».

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