Carla Viana - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carla Viana
Carla Viana
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Carla Viana é licenciada em Linguística e mestranda em Linguística Computacional pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.

 

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Luxo é considerada uma palavra da família de luz?

Obrigada.

Resposta:

Conforme mencionado em respostas anteriores, família de palavras é o conjunto de palavras que partilham o mesmo radical e estão relacionadas morfológica e etimologicamente com o seu radical. Assim, a palavra luxo não pertence à família de palavras de luz, uma vez que não partilha o mesmo radical, nem está relacionada morfológica ou etimologicamente com a palavra luz. Como exemplo de palavras que pertencem à família de luz, temos luzente (formada por derivação, luz + ente) e contraluz (formada por composição de duas palavras).

Pergunta:

Muitos linguistas consideram os fonemas o e a como desinência masculina e feminina, para alguns o o é vogal temática do nome.

Podemos entender que a designação pode ser classificada pelas palavras conforme determinada classe, isto é, posso relacionar a palavra com o significado?

Como posso entender estas transcrições fonéticas?

Obrigada.

Resposta:

Normalmente, os nomes terminados em -o são masculinos, e os terminados em -a são femininos. No entanto, há nomes terminados em -o que são femininos, como tribo, ou que admitem dois géneros, como modelo, e nomes terminados em -a que são masculinos, como mapa, poeta, ou que admitem dois géneros, como artista. O valor de género dos nomes terminados em -e, dos nomes de tema Ø e dos atemáticos é totalmente arbitrário (por exemplo, pente, lente, arroz, noz, , ). Por exemplo, nas palavras menino e menina, -o e -a indicam o índice temático, mas, neste caso, também referem o género masculino e feminino, respectivamente.

Segundo a Gramática da Língua Portuguesa, de M.ª Helena Mira Mateus et alii (Lisboa, Editorial Caminho, 2003, págs. 929-931), em português, o género é uma categoria morfossintáctica que possui dois valores: masculino e feminino. O género masculino, quando se encontra associado a um nome animado, refere de uma maneira geral uma entidade de sexo masculino, e o feminino refere uma entidade de sexo feminino, como, por exemplo, gato/gata, pintor/pintora. Em alguns nomes, como os nomes epicenos e sobrecomuns, existe apenas um único valor de género, qualquer que seja o sexo da entidade que referem, por exemplo, testemunha, águia. Nos nomes animados comuns de dois, a sua forma morfológica é ambígua quanto ao género, por exemplo, um/uma jornalista. Nos nomes inanimados, o valor de...

Pergunta:

Surgiu-me uma dúvida em relação às palavras da mesma família de, por exemplo, caminho. Será que posso considerar correcto quando um aluno coloca como palavras da mesma família de caminho: caminho-de-ferro ou outras palavras com hífen? Será que palavras com hífen fazem parte do grupo de palavras da mesma família, ou depende das palavras? E nas palavras da mesma família de máquina, posso considerar correcto máquina de escrever, máquina calculadora...?

Resposta:

A palavra caminho-de-ferro é uma palavra composta (caminho substantivo + de preposição + ferro
substantivo) que pertence à família da palavra caminho. O termo família de palavras designa um conjunto de palavras que se agrupam em torno de um radical comum. As palavras que integram este conjunto são formadas pelos processos de derivação ou de composição, relacionando-se morfológica e etimologicamente.

No caso das palavras máquina de escrever ou máquina calculadora, ou até mesmo maquinaria e maquineta, palavras formadas por derivação, é corre{#c|}to considerá-las palavras da família do substantivo máquina.

Pergunta:

Após uma consulta no vosso site sobre os prefixos in-, il-, i-, encontrei uma entrada que dizia:

«O prefixo in- antes de l ou m adopta a forma i por assimilação:

in- legível < il- legível < ilegível

in- migrar < im - migrar < imigrar»

Por esta lógica, diz-se ilocalizável, e não inlocalizável?

Resposta:

A palavra ilocalizável não se encontra registada nos dicionários gerais de língua consultados como o Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea e o Dicionário de Língua Portuguesa Houaiss.
No entanto, de acordo com as regras de formação de palavras em português com o prefixo in-, a palavra correcta seria ilocalizável, com o sentido de contrário ao adjectivo localizável.
A regra de formação de palavras com o prefixo in- obriga a que, antes de l ou m, aquele adopte a forma i por assimilação (regra em que um fonema absorve as características de outro fonema que lhe é próximo, ocorrendo o desaparecimento do primeiro fonema): in- localizável > il-localizável > ilocalizável.

Pergunta:

O morfema gramatical tem a função de enquadrar o morfema lexical dentro de categorias da língua? Exemplo?

Resposta:

O morfema é a unidade mínima gramatical portadora de significado numa língua. Relativamente à natureza de significação, os morfemas classificam-se em morfemas lexicais e morfemas gramaticais. Os morfemas lexicais são unidades lexicais com significação externa, com conteúdo e forma, uma vez que se referem a factos do mundo extralinguístico, ao que distinguimos na realidade objectiva ou subjectiva. Ex.: Almada, laranja, saudade, etc. Os morfemas gramaticais têm significação interna, pois derivam das relações e categorias existentes na língua. São unidades independentes como, por exemplo, o (artigo definido), de (preposição), ou dependentes como -a (em casa), -s (em casas), entre outras.

Alguns linguistas como B. Pottier (Estruturas Linguísticas do Português, 1975) distinguem os primeiros dos segundos reconhecendo que os morfemas lexicais pertencem a uma categoria com um grande número de variáveis uma vez que constituem uma classe aberta, enquanto os gramaticais pertencem a uma classe fechada, com um número restrito de variáveis. Pottier denomina os morfemas lexicais de lexemas ou semantemas, enquanto os morfemas gramaticais são chamados de gramemas ou formantes, usando o termo lexema como oposto a gramema. Ao morfema lexical, a Nova Gramática do Português Contemporâneo, de Celso Cunha e Lindley Cintra, dá o nome de radical, ao qual se ag...