Carla Viana - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carla Viana
Carla Viana
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Carla Viana é licenciada em Linguística e mestranda em Linguística Computacional pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.

 

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Existe a palavra em português do Brasil "re-evangelizar"? E qual o seu significado, pois trata-se de uma expressão muito usada no italiano?

Resposta:

O verbo evangelizar provém do latim evangelizare, e pode significar «divulgar os Evangelhos», «difundir a fé cristã», «ficar a conhecer o evangelho ou a fé cristã»: «Os nativos evangelizaram-se.»

A palavra reenvangelizar não é uma palavra registada nos dicionários de língua portuguesa. No entanto, é uma palavra possível linguisticamente, cuja criação resulta de uma mera necessidade comunicativa: reconhece-se o prefixo re- com o significado de «voltar a» e a palavra-base evangelizar.

À palavra reevangelizar é possível atribuir um significado: «voltar a envangelizar» ou «voltar a converter»; p. ex.: «É urgente reevangelizar os cristãos.»

O termo reevangelizar foi criado para referir o acto de voltar a anunciar o evangelho ou torná-lo novamente conhecido entre os cristãos ou fiéis, trazendo de volta à religião os que se afastaram dela.

Pergunta:

O morfema lexical, além de funcionar como base de significação, serve para formar outras palavras do idioma? Exemplo?

Resposta:

Os morfemas lexicais são unidades lexicais com significação externa, com conteúdo e forma, uma vez que se referem a factos do mundo extralinguístico, ao que se distingue na realidade objectiva ou subjectiva, por exemplo, Almada, laranja, saudade, etc. Os morfemas lexicais pertencem a uma categoria com um grande número de variáveis uma vez que constituem uma classe aberta, ou seja, é uma classe sempre passível de ser acrescida de novas palavras.

Pergunta:

Gostaria de saber se cata-vento pertence à família de vento.

Obrigada.

Resposta:

O termo família de palavras designa um conjunto de palavras que se agrupam em torno de um radical comum, são formadas pelos processos de derivação ou de composição, relacionando-se morfológica e etimologicamente.

A palavra cata-vento, sendo composta pelo verbo catar e pelo substantivo vento, pertence à família da palavra vento, tal como as palavras ventoso*, ventosidade* ou corta-vento, entre outras.

*Estas duas palavras são formadas pelo processo de derivação.

Pergunta:

Como se dá a formação da palavra ilusão? Qual é o seu radical? Há um sufixo? Qual seria?

Resposta:

A palavra ilusão é uma palavra simples que provém da palavra latina illusione > ilusion > ilusiom > ilusão. Nas palavras simples, o radical não se decompõe, enquanto, nas palavras complexas, integra dois ou mais constituintes.

Pergunta:

Qual a classe gramatical de «jovem» em «O jovem repórter foi promovido» e «O repórter jovem foi promovido»? Só para constar: meu professor disse que no primeiro caso é substantivo, e, no segundo, adjetivo. Continuei duvidando. E se puderem me ajudar, qual o critério utilizado para saber se uma palavra é ou não adjetivo quando muda sua posição diante de substantivo? Por exemplo, «nova estatística» ou «estatística nova», a palavra nova continua sendo adjetivo, mas por que «fumante italiano» e «italiano fumante», fumante é substantivo no primeiro caso, e adjetivo no segundo?

Preciso de ajuda!

Resposta:

Jovem é adjectivo («patrão jovem»), mas também é substantivo («um jovem que é patrão»).1 Repórter é normalmente um substantivo, mas ocorre eventualmente como modificador de outro substantivo; por exemplo, na palavra não dicionarizada, mas possível, «detective-repórter» e na frase «este jovem é repórter». Por conseguinte, o professor em causa só em parte tem razão, porque na realidade duas interpretações são atribuíveis a «o jovem repórter»:

1) Existe um repórter [substantivo] que é um homem jovem [adjectivo].

2) Existe um jovem [substantivo] que é repórter [substantivo com valor adjectival].

Quer isto dizer que, ao classificar uma palavra ou como substantivo ou como adjectivo, é necessário saber que:

a) a mesma forma pode pertencer a duas classes morfossintácticas diferentes: jovem é adjectivo em «um patrão jovem», mas é substantivo em «um jovem»;

b) há adjectivos que podem preceder ou seguir o substantivo que modificam (posições pré-nominal e pós-nominal, respectivamente), como sucede com as expressões «um patrão novo» e «um novo patrão», mas acontece que outros adjectivos apenas pospostos aos substantivos podem ocorrer: diz-se «um carro vermelho», mas não *«um vermelho carro».2

O caso de «nova estatística» ou «estatística nova» é justamente o mesmo de «patrão novo» e «novo patrão»: o masculino novo e o feminino nova ocorrem sobretudo como adjectivos.3 Contudo, relativamente a «fumante italiano» e «italiano fumante», já a situação é semelhante à de «carro vermelho». Por um lado, como muitos adjectivos de cor, os adjectivos referentes a nacionalidade usam-se pospostos só aos substanti...