Com base na frase «Alguém viu-o na rua», a professora Carla Marques aborda a questão da colocação do pronome clítico em conjugação com pronomes como alguém (colaboração no programa Páginas de Português, na Antena 2).
Doutorada em Língua Portuguesa (com uma dissertação na área do estudo do texto argumentativo oral); investigadora do CELGA-ILTEC (grupo de trabalho "Discurso Académico e Práticas Discursivas"); autora de manuais escolares e de gramáticas escolares; formadora de professores; professora do ensino básico e secundário. Consultora permanente do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacada para o efeito pelo Ministério da Educação português.
Com base na frase «Alguém viu-o na rua», a professora Carla Marques aborda a questão da colocação do pronome clítico em conjugação com pronomes como alguém (colaboração no programa Páginas de Português, na Antena 2).
Discurso Académico: Conhecimento disciplinar e apropriação didática é uma publicação da Grácio Editor e organizada por Paulo Nunes da Silva, Alexandra Guedes Pinto e Carla Marques. Reúne um conjunto de artigos que resultam de contributos apresentados no II Encontro Nacional sobre Discurso Académico (ENDA2) e que, tal como assinalam os organizadores na introdução, partiram de «enquadramentos teóricos e de metodologias diversificadas», materializando o título do encontro «Discurso Académico: Comunidade de investigação e identidade» (pág. 17).
Em termos estruturais, a revista está organizada em três partes: uma primeira parte dedicada às práticas no Ensino Básico e Secundário, uma segunda parte que se debruça sobre as práticas no Ensino Superior e, por fim, uma terceira parte que inclui as contribuições que resultam das apresentações em mesas redondas.
Da parte I, destaca-se o texto «Do ensino explícito da escrita ao desenvolvimento da consciência discursiva», de Ana Maria Simões, que apresenta um estudo de caso de uma turma de português do 12.º ano (último nível do ensino secundário português). A recolha de dados demonstra que o ensino explícito da estruturação do discurso na produção escrita é uma abordagem significativa para o desenvolvimento da consciência discursiva dos estudantes, evidenciando as atividades didáticas que visam a recuperaçã...
Estava a assistir à reportagem da TVI sobre um eclipse solar híbrido na região Ásia-Pacífico e quando um espectador começou a comentar apareceu:
«Foi difícil convencê-los ao início, porque disse-lhes que ia durar só um segundo.»
Não devia ser «porque lhes disse»? Será só um erro? O pronome não devia estar atrás do verbo?
Gostaria de saber se essa frase está correta ou não.
Obrigado.
O pronome deveria ser colocado antes do verbo.
Com orações subordinadas finitas, o pronome clítico coloca-se normalmente antes do verbo (em posição proclítica). Considera-se, assim, que as conjunções ou as locuções conjuncionais que introduzem a oração subordinada atraem a próclise. Isto acontece com orações subordinadas temporais, causais, concessivas, finais ou condicionais. Nos exemplos abaixo, apresentamos o atractor de próclise a negrito e o pronome átono sublinhado:
(1) «O João percebeu tudo quando lhe telefonou.»
(2) «O João percebeu tudo porque lhe telefonou.»
(3) «O João ficou tão triste que lhe telefonou.»
(4) «O João saiu para lhe telefonar.»
(5) «Se ele lhe telefonou, ficou a saber a verdade.»
Pelo que ficou dito atrás, na frase apresentada pelo consulente, o pronome deve ser colocado em posição proclítica:
(6) «Foi difícil convencê-los ao início, porque lhes disse que ia durar só um segundo.»
Disponha sempre!
Gostaria de saber se há algum problema gramatical com a seguinte frase:
«Ela corre veloz.»
Porque normalmente falamos: «Ela corre rápido.»
Ou o ideal devia ser «Ela corre velozmente»?
A opção mais elegante será a construção «corre velozmente». Esta opção deve-se ao facto de a classe do verbo se compatibilizar com a do advérbio, que incide sobre aquele modificando-o. Neste caso, o advérbio velozmente incide sobre correr, expressando um valor de modo.
Não obstante, uma pesquisa no Corpus do Português, de Mark Davies, mostra-nos que a construção «corre veloz» também tem registos de uso, particularmente no português do Brasil. Este facto justifica-se pela possibilidade de uma utilização do adjetivo veloz com leitura adverbial. Esta será, todavia, uma opção menos cuidada e, portanto, mais aceitável em contexto de menor formalidade.
Disponha sempre!
Ao utilizar «de que» numa frase mais do que uma vez, é necessário repetir sempre esta combinação? Deixo alguns exemplos abaixo:
– a) «Certifique-se de que o motor liga e de que a luz acende», ou b) «Certifique-se de que o motor liga e que a luz acende»;
– a) «Certifique-se de que o dispositivo está instalado, de que não está danificado e de que funciona corretamente», ou b) «Certifique-se de que o dispositivo está instalado, que não está danificado e que funciona corretamente.»
Agradeço, desde já, a atenção dispensada.
Relativamente à questão apresentada, há três possibilidades a considerar.
Uma delas, a mais formal, é a se manter, nas estruturas coordenadas a preposição e a conjunção, como se exemplifica em (1):
(1) «Certifique-se de que o motor liga e de que a luz acende.»
Outra possibilidade será a de omitir a preposição regida pelo verbo. Esta é uma opção que tem lugar em contextos mais informais ou em situações de oralidade. Trata-se de uma possibilidade que advém do facto de a preposição de ter uma semântica pouco evidente, sendo a sua função sobretudo gramatical. Assim, é possível, nos contextos referidos, a frase apresentada em (2):
(2) «Certifique-se que o motor liga e que a luz acende.»
Uma outra opção será aquela em que na coordenação se omitem preposição e conjunção, como em (3):
(3) «Certifique-se de que o motor liga e a luz acende.»
Já a opção por eliminar apenas a preposição traz desequilíbrio à frase, pelo que, pelo menos num registo cuidado, não é aceitável:
(4) «Certifique-se de que o motor liga e que a luz acende.»
Disponha sempre!
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