Pergunta:
Enquanto docente, deparo-me frequentemente com a utilização do verbo falar em numerosos contextos que, na minha opinião, não são, na sua grande maioria, os mais corretos.
Assim, surgem frases, como:
a) «Ele falou que ia ao cinema.» (Influência do português do Brasil)
b) «O texto fala da história dos dinossauros.»
c) «Venho falar sobre a minha opinião sobre a televisão.»
Estes são alguns exemplos daquilo que ouço diariamente, em sala de aula, mas também do que leio nos textos escritos pelos alunos. Apesar de tentar explicar aos alunos que utilizamos este verbo, sobretudo, quando nos referimos a conversas («Ele falou com ela», «Ele falou dela», «Ele falou dos seus problemas»...), vejo que nem sempre percebem a diferença e tenho alguma dificuldade em explicá-la de outro modo.
Assim para as frases acima, sugiro que escrevam/digam:
a) «Ele disse/afirmou que ia ao cinema.»
b) «O texto conta/narra a história dos dinossauros.»
c) «Vou apresentar a minha opinião sobre a televisão.»
Gostaria, então, de saber se há alguma resposta mais adequada que eu possa transmitir aos meus alunos para a resolução desta situação, pois as suas dificuldades de expressão, quer oral, quer escrita, têm vindo a agravar-se e, contrariamente ao que muitos afirmam, não por culpa dos confinamentos a que estiveram sujeitos.
Agradeço, desde já, a sua disponibilidade em responder.
Resposta:
Uma dificuldade que os alunos manifestam com alguma frequência está relacionada com a incapacidade/dificuldade de ajustar os seus textos (orais ou escritos) a um registo de língua formal ou mais cuidado. Por essa razão, a escola aborda conteúdos como as variantes diastráticas (grupos sociais) ou as variantes diafásicas (grau de formalidade) e os processos de adequação linguística ao contexto de comunicação.
Os usos do verbo falar apresentados pela consulente são todos legítimos, porque, de facto, este verbo tem uma amplitude grande de significações, como se pode observar por uma síntese do seu verbete retirada do Dicionário da Língua Portuguesa, da Academia das Ciências de Lisboa:
«1. articular, um ser humano, sons com a voz, formando palavras. 2. imitar, um animal ou um mecanismo, a linguagem humana, produzindo-a. 3. exprimir-se em determinada língua. 4. comunicar, usando um sistema não linguístico. 5. revelar um segredo; tornar pública, conhecida, determinada informação. 6. dirigir a palavra ou comunicar verbalmente com alguém; estabelecer uma conversa. 7. conversar ou fazer afirmações, comentários, observações, referências, sobre determinado assunto ou determinada pessoa. 8. fazer um discurso sobre um tema, por escrito ou oralmente; fazer a apresentação e análise de um assunto. 9. dizer alguma coisa em nome de alguém; expressar o que alguém pensa ou quer. 10. manifestar determinada intenção. 11. ter como assunto, como tema. 12.referir determinado nome ou expressão a propósito de algo. 13. dizer que existe, que é real. 14. dirigir uma saudação ou fazer um gesto de cumprimento.»
Não obstante, em contexto didático, o uso excessivo do verbo falar poderá ser sinal de pobreza lexical e poderá ser obviado por meio de exercícios como os seguintes: