Carla Marques - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carla Marques
Carla Marques
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Doutorada em Língua Portuguesa (com uma dissertação na área do  estudo do texto argumentativo oral); investigadora do CELGA-ILTEC (grupo de trabalho "Discurso Académico e Práticas Discursivas"); autora de manuais escolares e de gramáticas escolares; formadora de professores; professora do ensino básico e secundário. Consultora permanente do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacada para o efeito pelo Ministério da Educação português.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Como se fazem a divisão e a classificação das orações da frase «A Marisa saberá como atuar, a menos que tenha algum desgosto»?

Resposta:

A frase apresentada é composta por três orações:

(i) «A Marisa saberá» – oração subordinante;

(ii) «como atuar» – oração subordinada completiva interrogativa indireta;

(iii) «a menos que tenha algum desgosto» – oração subordinada adverbial condicional. 

Disponha sempre!

Pergunta:

Na frase «Aquele artista do circo era muito engraçado», a expressão «do circo» desempenha a função de complemento do nome ou de modificador restritivo do nome?

Resposta:

O constituinte «do circo» desempenha a função sintática de complemento do nome.

Quando um nome designa uma dada atividade ou profissão, necessita de um complemento que especifique essa mesma atividade ou profissão1. 

1. Para mais informações, Cf. Mateus et al.Gramática da Língua Portuguesa. Caminho, pp. 330-340 e Textos relacionados. 

Pergunta:

Em frases como as seguintes:

«Eu te sou leal.»

«Ela era-lhe fiel.»

as formas dativas te, lhe são consideradas como dativo ético, dativo de interesse ou complemento indireto?

Nesse contexto, o verbo ser é dito copulativo? O dativo ético é o mesmo que dativo de interesse?

Desde já grato ao vosso trabalho.

Resposta:

Nos casos em apreço, as formas dativas do pronome desempenham a função de complemento do adjetivo.

Nas frases, o sintagma adjetival, composto por um núcleo adjetival, leal e fiel, poderia ser acompanhado por constituintes como os apresentados em (1) e (2):

(1) «Eu sou leal aos meus amigos

(2) «Eu sou fiel ao meu colega

Os constituintes «aos meus amigos» e «ao meu colega» desempenham a função de complemento do adjetivo e podem ser substituídos por um pronome clítico:

(1a) «Eu sou-lhes leal.»

(2a) «Eu sou-lhe fiel.»

Nas frases apresentadas pelo consulente, verifica-se a mesma situação. 

Por sua vez, o dativo ético e o dativo de interesse integram os chamados “dativos éticos”. Estes constituem termos que «aparecem sob forma de objeto indireto, nominal ou pronominal […] [e] não estão direta ou indiretamente ligados à esfera do predicado» (Bechara, Moderna Gramática Portuguesa. p. 350). Neste âmbito, o dativo de interesse indica quem beneficia da ação verbal:

(3) «Vive para os filhos

(4) «Abriu-me o livro na página certa.»

O dativo ético é comum na oralidade e é expresso por um pronome que fica fora do espaço do complemento indireto, como se observa na frase (5), na qual «às crianças» desempenha a função de complemento indireto:

(5) «Não me

Pergunta:

Quero saber se a seguinte frase apresenta algum erro de concordância verbal: «Foi combinado que nós ERA que apresentaríamos o trabalho.»

Resposta:

A frase é incorreta. 

Esta frase inclui uma estrutura de clivagem ou de foco, que permite pôr em destaque um elemento da frase. No caso particular apresentado pela consulente, a construção clivada é trabalhada pela expressão é que. Esta expressão de realce não admite marcas de tempo ou de concordância1. É por isso fixa. Por esta razão, a frase apresentada é incorreta. Poderemos propor como equivalente correto a construção (1): 

(1) «Foi combinado que nós é que apresentaríamos o trabalho.» 

Note-se ainda que a expressão é que deverá ser evitada num discurso mais cuidado ou formal, sendo preferível, por exemplo, a forma mais neutra: 

(2) «Foi combinado que nós apresentaríamos o trabalho.»

 

1. Cf. Mateus et al., Gramática da língua portuguesa. Caminho, pp. 690-692.

Avaliar o caráter com nacionalidades
As perceções linguísticas associadas a nacionalidades e etnias

«O contacto com outros povos propiciou a consolidação de perceções relativas às diferentes nacionalidades raças e etnias com as quais os portugueses foram convivendo», escreve a professora Carla Marques, num apontamento em que  recorda os muitos sentidos associados às palavras que designam nacionalidades ou etnias.