Pergunta:
A dúvida coloca-se em relação à frase:
«Os conteúdos são os que saíram no último teste.»
O meu entendimento é o seguinte:
«Os conteúdos são os que saíram no último teste» = «os conteúdos são os [conteúdos] que saíram no último teste» = «os conteúdos são aqueles que saíram no...»
Predicativo do Sujeito – os [conteúdos/aqueles] que saíram no último teste – or. subordinada adj. relativa restritiva
Função sintática do pronome relativo – sujeito («os conteúdos saíram no último teste»)
Função sintática da oração subordinada: modificador do nome restritivo (= «os conteúdos 'saídos' no último teste»; «os conteúdos já avaliados»).
Na gramática de Lindley Cintra e Celso Cunha, lê-se:
«As orações subordinadas adjetivas vêm normalmente introduzidas por um PRONOME RELATIVO, e exercem a função de ADJUNTO NOMINAL, de um substantivo ou pronome antecedente» (os destaques são dos autores).
O exemplo dado para a situação em que o pronome é o antecedente é:
«O/que tu vês/é belo;/mais belo o/que suspeitas;/ e o/que ignoras/muito mais belo ainda» (Raul Brandão).
Vejo este exemplo como equivalente apresentado em cima. Bem sei que esta gramática está desatualizada e eu não tenho trabalhado com a nova terminologia gramatical (Dicionário Terminológico – DT), mas as atualizações não ocorreram na classificação básica da subordinação (adverbiais/adjetivas/substantivas), pois não?
A verdade é que o DT apresenta o «o que» como introdutor da oração subordinada substantiva relativa, embora sem dar exemplos. Poderá ser uma gralha?
Como ensino, sobretudo, Latim, sempre que tenho dúvidas, recorro à gramática latina. Este tipo de construção (pronome antecedente da oração relativa) é muito comum em latim:
Is qui aliēnum appĕtit suum amittit (Fedro): «aquele que cobiça o alheio perde o seu» (Is – prono...
Resposta:
Relativamente à interpretação do constituinte «o que» existem posições gramaticais distintas, que se refletem em diferentes respostas disponíveis no Ciberdúvidas1 Analisaremos aqui duas dessas visões.
Por um lado, há gramáticos que, numa perspetiva que vem da tradição, consideram que «o que» é, sempre que ocorre, um constituinte formado pelo pronome indefinido o, que funciona como antecedente da oração relativa2, introduzida pelo pronome relativo que. Nesta perspetiva, a oração relativa tem uma natureza adjetiva restritiva e desempenha a função sintática de modificador do nome restritivo. A função sintática de predicativo do sujeito é desempenhada pelo constituinte «os que saíram no último teste»:
(1) «Os conteúdos são [os [que saíram no último teste]modificador do nome restritivo]predicativo do sujeito.»
Por outro lado, encontramos propostas mais recentes que propõem que «o que» seja considerado como uma locução pronominal relativa formada pelo artigo definido o seguido do relativo que. Nesta construção, o artigo definido é invariável e a locução relativa tem como antecedente toda uma oração, como acontece em (2):
(2) «Ele estudou muito, [o que contribuiu para o seu sucesso]modificador apositivo de frase.»
Neste caso, a oração relativa tem a função de modificador apositivo de frase, como se representa em (2).
A identificação da locução «o que» pode fazer-se por meio de alguns testes, como3:
(i) o não pode ser substituído por um pronome:
(2a) «*Ele estudou muito, este que contribuiu para o seu sucesso.»