Brígida Trindade - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Brígida Trindade
Brígida Trindade
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Professora portuguesa, licenciada em Línguas e Literaturas Modernas pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, é professora de português no ensino básico e professora cooperante da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Foi investigadora do ILTEC (1990-1997).

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Como posso distinguir os vários tipos de modificador?

Obrigada

Resposta:

O modificador é uma função sintática que não é selecionada pelo verbo, nem pelo nome, podendo, por isso, ser eliminado sem comprometer a gramaticalidade da frase. Vejamos: 

                «A Ana vai a Lisboa (amanhã).»

O modificador aceita o teste da mobilidade:

                a) «Amanhã, vou a Lisboa.»

                b) «Vou, amanhã, a Lisboa.»

                c) «Vou a Lisboa amanhã

No teste da pergunta/resposta, verificamos que o modificador está na pergunta e não é necessário na resposta:

                a)  «O que é que faço amanhã?»  

                R: «Vou a Lisboa.»

 

Obs. – O mesmo não poderemos fazer com o constituinte a Lisboa:

                a) «*O que é que  faço a Lisboa?»

                R:  «*Vou amanhã.»

Da aplicação deste teste, conclui-se que o constituinte que está na pergunta (amanhã) é opcional, logo é o modificador e o constituinte que está na resposta (a Lisboa) é obrigat...

Pergunta:

Está correto considerar que a expressão "a boatos" («Não dês ouvidos a boatos.») desempenha a função de complemento indireto e posso aceitar o teste: "Não lhes dês ouvidos" ?

Obrigado pelo vosso trabalho e tempo.

Resposta:

Segundo a tipologia verbal, o verbo dar1 é transitivo direto e indireto. Seleciona, portanto, dois complementos: um complemento direto e um complemento indireto.

 Demonstro a análise da frase:

     a) «Não dês ouvidos aos boatos.»

 1.    Aplicação do teste de identificação do complemento direto:

           a’) «Não os dês aos boatos.»

 2.    Aplicação do teste de identificação do co...

Pergunta:

Tenho de escrever um texto sobre a Guerra de Troia, onde aparece a data em que tal evento se terá passado; sei que não existe uma certeza quanto às datas de início e de término, apenas que durou dez anos e que esses dez anos ficarão entre duas datas: 1260 a.C. e 1180 a.C.

Então, fazendo uso da abreviatura do termo circa (c.) escrevi: Agamemnon (Aγαμέμνων), rei de Micenas, conduz os helenos aos dez anos da Guerra de Troia (c. 1260 – c. 1180 a.C.).

Ou seja: tomei a Guerra de Troia como um evento por inteiro – como uma pérola, p. exemplo, que vale 10 anos – e que se move entre aqueles dois marcos da linha do tempo; logo, essa 'pérola' poderá situar-se mais para a esquerda ou mais para a direita daquele intervalo de tempo. No entanto, algumas pessoas com quem estou a trabalhar discordam deste uso do termo «circa», pois a informação que dá é que essa guerra poderia ter durado à volta de 40 anos. Compreendo este outro modo de ler circa.

Gostaria, pois, de saber se o uso que faço desta abreviatura está correto ou se terei de arranjar outro modo, sem abreviaturas, de dizer que a GT se passou algures entre aquelas datas...

Resposta:

      Sobre o uso da palavra latina circa, vide uso da palavra latina circa.

 

     Tendo em conta o  contexto frásico a que se refere, e para que não haja ambiguidade, deve alterar para  c. 1260 –1180 a.C. ou  ... terá decorrido entre anos 1260 a.C. e 1180 a.C.

 

 N.E. – Voltamos a pedir a quantos acedem ao consultório do Ciberdúvidas: antes da colocação da pergunta, confirme-se na pesquisa do arquivo se o tema não se encontra já esclarecido.

* Cf. Como (melhor) navegar e pesquisar no Ciberdúvidas

Pergunta:

Tenho-me deparado com a problemática de verbos no particípio que têm todos os indícios de serem adjetivos e vice-versa. Não consigo compreender exatamente quando esses verbos indicam uma ação terminada. Como exemplo, cito: «O sinal está vermelho»; «O sinal está fechado». Para mim, tanto «vermelho» quanto «fechado» podem indicar a continuação do verbo estar. Mas «vermelho» é adjetivo.

Outro exemplo: «A onça estava agitada e assustada.» Não posso dizer que a onça é assustada, não seria uma característica inerente a ela, mas sim ao momento. Como é possível definir de forma inequívoca o devido uso do particípio como verbo ou como adjetivo?

Desde já agradeço muito o auxílio de vocês.

Resposta:

Vamos por partes:

 1º. Todos os particípios passados são adjetivos desde que usados em frases predicativas, ou seja, com verbo copulativo (ser, estar, ficar parecer, permanecer, tornar-se, revelar-se,..).

 Nas frases que apresenta:

 a)    «O sinal está vermelho.»

 b)    «

Pergunta:

Gostaria de pedir esclarecimento sobre algumas dúvidas relativas ao pronome “mim” e funções sintáticas. No tocante ao pronome, geralmente, desempenha a função de objeto indireto, claramente, com verbos que requeiram esse tipo de complemento. Contudo, uma inquietação surgiu-me quando encontrei a seguinte construção: «Ninguém mandou aqui a mim».

Primeiro, queria saber se a construção é gramatical e por que razão?

Segundo, gostaria que me esclarecessem a função sintática que o “mim” desempenha na construção em causa, pois, apesar de geralmente desempenhar a função de objeto indireto, parece-me que não é essa a função que lhe foi atribuída aqui.

Ainda na mesma linha, gostaria de obter algum julgamento sobre o uso da expressão «mulher de mim».

Por último, queria também poder perceber a função sintática dos argumentos verbais nos trechos que se seguem, obtendo, se possível, a respetiva justificação. a) «Nas cenas do Auto da Lusitânia atuam as personagens Todo o Mundo e Ninguém.» b) «Essa guerra acontece na cabeça dele.» c) «Jet Li atua em Os Mercenários

Antecipadamente obrigado.

Resposta:

1. Em primeiro lugar, na variante europeia do português, não é verdade que o constituinte «a mim» seja geralmente o objeto (complemento) indireto.

Mim é a forma tónica do pronome pessoal com função de complemento oblíquo em «Ele duvida de mim; A Ana suspeita de mim; O meu pai decidiu por mim» ou com função de complemento agente da passiva em «Esta sopa foi feita por mim».

Podemos encontrar a expressão «a mim» como forma fática do complemento indireto em «Ele disse-me isso a mim e eu disse-te o mesmo a ti.

Em português europeu, a frase que apresenta: «Ninguém mandou aqui a mim» não é gramatical, dado que o verbo mandar é transitivo direto, logo pede complemento direto: Ninguém me mandou aqui.

Note-se que a colocação do pronome pessoal átono obedece a regras. Como o sujeito é um pronome indefinido, este obriga a que o pronome pessoal átono anteceda a forma verbal. A frase: *Ninguém mandou-me aqui é igualmente agramatical em português europeu. 

2. Na frase que o consulente pretende ver analisada o pronome pessoal átono -me desempenha a função sintática de complemento direto, d...