Bárbara Nadais Gama - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Bárbara Nadais Gama
Bárbara Nadais Gama
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Licenciada em Ensino de Português Língua Estrangeira, mestre em Português Língua Segunda/Língua Estrangeira pela Universidade do Porto e doutoranda em Didática de Línguas. Foi professora de Português no curso de Direito da Universidade Nacional Timor Lorosae- UNTL, no ano letivo de 2011-2012.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Como se deve dizer?

O meu filho faz-me lembrar a mim.

O meu filho faz-me lembrar eu.

O meu filho faz-me lembrar de mim próprio.

Resposta:

No português informal, aceitam-se as expressões referidas pelo consulente, tal como é possível dizer-se «olha eu» ou «olha ele», sobretudo em frase exclamativa. Contudo, a forma mais correta é «faz-me lembrar-me de mim».

Pergunta:

Na frase «o banquete realizou-se no palácio», qual a função sintática desempenhada pela expressão «no palácio»? Tenho dúvidas se será um modificador ou um complemento oblíquo.

Obrigada.

Resposta:

Tendo em conta que realizar-se pressupõe sempre a existência de coordenadas espaciais («realizou-se no parque») e temporais («realizou-se ontem»), pode dizer-se que é um complemento oblíquo. Contudo, deve ressalvar-se que o caso que a consulente nos apresenta não tem uma resposta inequívoca, uma vez que os testes de identificação de constituintes sintáticos eventualmente aplicáveis (omissão de constituintes e pergunta pró-verbo) podem não ser adequados com o verbo realizar-se.

Pergunta:

Há certo tempo, enquanto editava na Wikipédia, me deparei com um problema bem espinhoso no que diz respeito ao nome de determinados reis escandinavos. Dado que é comum ao português, de ambas as partes do Atlântico, aportuguesar os nomes de nobres, ao menos anteriores ao século XIX, pensei que deveria haver fontes para todos eles, ou sua grande maioria. Daí que queria saber a respeito destes:

Halsten – havia sugerido "Alsteno", ou até quem sabe "Halsteno";

Haakon – para os inúmeros monarcas deste nome achei a forma adaptada "Haquino", que, pelo que entendi, advém do latim Haquinus, no entanto, dado o número restrito de resultados, seria necessário algo mais sólido para afirmar;

Ragnvald – um editor sugeriu Reginaldo;

Birger – vi um editor sugerir "Brigério", provavelmente em associação com o caso similar do Berenguer, que se torna Berengário em português;

Gorm – aqui havia sugerido "Gormo";

Eystein – achei referências à forma Agostinho, porém, por também serem poucas, seria necessário algo mais sólido.

Resposta:

Efetivamente não se encontra tradição de forma portuguesa para os nomes apresentados pelo consulente.

Ao contrário do que se verifica em relação a nomes de monarcas franceses (Louis XVI = Luís XVI), ingleses (Elizabeth II = Isabel II), alemães (Wilhelm II = Guilherme II) – e até russos (Николай II = Nicolau II) –, nem todos os reis escandinavos são referidos com nomes portugueses ou aportuguesados. Por exemplo, o atual rei da Suécia, de seu nome sueco Carl XII Gustav, é conhecido em português como Carlos Gustavo; mas o rei norueguês Haakon VII (1872-1957) é geralmente referido pelo nome escandinavo em vez de ser identificado pela forma portuguesa Haquino, que é proposta, por exemplo, num artigo da Wikipédia. No caso dos nomes em questão, mantêm-se as formas originais escandinavas (ver, por exemplo, Birger e Haakon no Dicionário Prático Ilustrado, Porto, Lello e Irmão Editores, 1959).

Pergunta:

Um substantivo pode ser classificado como primitivo e composto?

Resposta:

De acordo com a Nomenclatura Gramatical Brasileira (1959), um substantivo, um adjetivo ou um verbo primitivos são os que servem de base a uma palavra derivada: casa (substantivo primitivo) > casal (substantivo derivado). Já no que diz respeito ao substantivo composto, este opõe-se a um substantivo simples, ou seja, enquanto este só apresenta um radical (chuva), aquele tem mais que um radical (guarda-chuva).1 Por outras palavras, considerando a terminologia gramatical brasileira, tem sentido falar em substantivos primitivos no contexto da derivação, mas não a respeito da composição de palavras.

1 Ver Evanildo Bechara, Moderna Gramática Portuguesa, Rio de Janeiro, Editora Lucerna, 2002, p. 354/355.

Pergunta:

Sei que Alcácer (do Sal) vem do árabe, mas gostaria de saber exatamente o que significava na sua origem.

Resposta:

Segundo o Dicionário Eletrônico Houaiss, um alcácer é uma «fortaleza, castelo, palácio fortificado, de origem moura, ger[almente] residência de governador, alcaide, casteleiro ou mesmo de rei» e, por extensão de sentido, «qualquer palácio ou moradia imponente, suntuosa». Quanto à sua etimologia, a mesma fonte acrescenta que se trata de um arabismo, ou seja, uma palavra de origem árabe – alqaṣr, «fortaleza, palácio». Registe-se ainda que este étimo está relacionado com o latim castra, palavra transmitida pelo grego (kástra) e pelo aramaico (qasṭĕrā) – ver Federico Corriente, Diccionario de Arabismos y Voces Afines en Iberromance, Madrid, Editorial Gredos, 2003. Sobre a forma Alcácer, incluída no topónimo português Alcácer do Sal, refira-se que tem a mesma origem que alcácer e, historicamente, o mesmo significado, encontrando-se atestada desde o século XII (cf. José Pedro Machado, Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa).