Bárbara Nadais Gama - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Bárbara Nadais Gama
Bárbara Nadais Gama
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Licenciada em Ensino de Português Língua Estrangeira, mestre em Português Língua Segunda/Língua Estrangeira pela Universidade do Porto e doutoranda em Didática de Línguas. Foi professora de Português no curso de Direito da Universidade Nacional Timor Lorosae- UNTL, no ano letivo de 2011-2012.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

A palavra prorrogamento existe?

Resposta:

Embora nos dicionários consultados (Dicionário da Língua Portuguesa, da Porto Editora, Dicionário Eletrônico Houaiss e Dicionário Priberam) não se encontrem registos do substantivo prorrogamento, verifica-se que esta forma figura com alguma frequência em páginas da Internet. Mesmo assim, deve assinalar-se que os dicionários gerais, entre eles, o Dicionário Houaiss, registam a palavra prorrogação com o sentido de «ato, ou efeito de prorrogar; adiamento, prolongamento», do latim prorogatio, cujo radical provém de prorogātum, supino de prorogāre, «prorrogar, adiar, demorar, prolongar (o tempo)» (idem). Parece, portanto,  que o ato ou o efeito de prorrogar é geralmente referido pela palavra prorrogação. Também uma consulta do Corpus do Português, de Mark Davies e Michael Ferreira, indica apenas a ocorrência de prorrogação, não havendo casos de prorrogamento. É, pois, de concluir que prorrogação é a forma mais usada e aquela a que se deve dar preferência.

Pergunta:

Nas frases:

1. Mais de trinta pessoas foram ao shopping.

2. Menos de trinta pessoas foram ao shopping.

As expressões «mais de» e «menos de» são consideradas locuções prepositivas, ou locuções adverbiais? Ou mais e menos são advérbios, e «trinta pessoas» funciona como complemento nominal?

Resposta:

O Dicionário Eletrônico Houaiss classifica como advérbios os vocábulos mais e menos, em construções semelhantes aos exemplos referidos pelo consulente.

«mais advérbio. [...] Acima de. Ex.: Os convidados eram mais de 200. [...].»

«menos advérbio. Pode indicar diminuição quantitativa indeterminada, não mais que. Ex.: havia mais de 30 pessoas presentes. [...]»

Neste tipo de análise, afigura-se legítimo atribuir à expressão associada aos advérbios mais e menos o estatuto de complementos adverbiais, de acordo com uma possibilidade admitida pelo Dicionário Terminológico (B 4.1 Frase e constituintes de frase): «Um grupo adverbial pode ser constituído [...] por um advérbio e pelo seu complemento [...]. Exemplos [...] [Independentemente da tua opinião], isto funciona.»

Contudo, na Gramática do Português, da Fundação Calouste Gulbenkian (Lisboa), publicada em 2013, considera-se que as expressões formadas pelos advérbios mais e menos e por numerais («mais/menos de trinta pessoas») constituem globalmente os quantificadores de contagem vaga (p. 778).

Não há, portanto, uma classificação consensual entre os gramáticos e dicionaristas acerca das expressões em apreço.

Pergunta:

Porque se diz «cento e um» e não «cem um»? Porque muda a palavra?

Resposta:

É por razões históricas que se diz «cento e um», e não *«cem e um» nem *«cem um» (o * indica agramaticalidade). Segundo o Dicionário Aulete, cem é a forma apocopada de cento, do latim centum, «cem, cento», que ocorre numa expressão quantificadora quando o numeral precede um substantivo; ou seja, numa fase bastante antiga da história da língua, ter-se-á passado de cento a cem em contextos como «cem soldados».1 No português contemporâneo, emprega-se a forma cento em vez de cem na formação dos numerais cardinais entre cem e duzentos (cento e três), na referência a um conjunto de cem unidades («um cento de melões») ou para indicar proporções e medidas em forma de percentagens («vinte por cento»). Como substantivo masculino, cento poderá referir-se ainda a «jogo, próprio para duas pessoas, cada uma delas com 12 cartas (mais usado no plural)» (Dicionário Houaiss).

1 O Dicionário Eletrônico Houaiss diz que se usa cento em vez de cem como diacronismo arcaico.

Pergunta:

Gostaria de saber o que significa exatamente a expressão «parti pris».

Obrigada.

Resposta:

Do francês parti pris, significa «opinião preconcebida; preconceito» (Dicionário da Língua Portuguesa, da Porto Editora). O iDicionário Aulete acrescenta que se trata de uma opinião assumida antecipadamente, de maneira preconcebida ou tendenciosa. Como estrangeirismo que é, recomenda-se o seu uso em itálico ou entre aspas.

Acrescente-se que o uso deste galicismo já mereceu no passado a reprovação de certos normativistas, como é o caso de Rodrigo de Sá Nogueira, no Dicionário de Erros e Problemas de Linguagem (Lisboa, Clássica Ediora, 1989), onde se pode ler o seguinte comentário (de notar o hífen usado na expressão, que não é confirmado no Trésor de la Langue Française):

«Já é tempo de devolvermos definitivamente à procedência este inútil galicismo. Em vez de dizermos, por ex., «ele sempre discute os assuntos com parti-pris», diga-se: «ele sempre discute os assuntos com parcialismo ou com parcialidade, ou com ideias preconcebidas, ou com preconceitos, ou coisa equivalente.»

Pergunta:

A palavra suessião existe? Consultei o Vocabulário Ortográfico do Português, que a assinala como sendo um adjetivo, mas não a encontro em mais lado nenhum! Podem ajudar-me?

Obrigada.

Resposta:

O adjetivo suessião está registado no Dicionário Eletrônico Houaiss com o mesmo significado que suessiense: «relativo a Suessião (atual Soissons), cidade principal dos suessiões, antigo povo da Gália ou seu natural ou habitante; suessião.»