Aura Figueira - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Aura Figueira
Aura Figueira
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Licenciada em Línguas e Literaturas Modernas, variante de Estudos Portugueses e Franceses, pela Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa, com uma pós-graduação em Ciências da Documentação e da Informação, variante de Biblioteconomia. É professora de português dos ensinos básico e secundário. 

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Na frase «Houve quem achasse desmedida a vingança do homem.», a oração «quem achasse desmedida» é subordinada substantiva relativa? Em caso afirmativo, qual a oração subordinante?

Resposta:

    A divisão e classificação das orações da frase apresentada é a seguinte:

«Houve»: oração subordinante -– o verbo haver é impessoal, isto é, só se conjuga na 3.ª pessoa do singular e não seleciona sujeito.

«quem achasse desmedida a vingança do homem»: oração subordinada substantiva relativa sem antecedente finita – desempenha na frase a função de complemento direto.

Pergunta:

Por vezes, tenho dificuldades em distinguir o valor aspetual imperfetivo, habitual e iterativo. Se me puderem ajudar, agradeço imenso. Assim, na expressão «Eles iam todos os dias ao cinema», o valor é habitual ou iterativo? E na frase «Quando era jovem, lia livros de aventuras», o valor é habitual ou imperfetivo?

Muito obrigada.

Resposta:

    É natural que sinta dificuldade em distinguir esses três valores aspetuais, atendendo a que « (...) o aspeto, concebido como a perspetivação "temporal" interna das predicações, assume-se como uma categoria semântica que envolve múltiplos e diversificados constituintes da língua interagindo de forma dinâmica e composicional desde as diferentes classes de palavras (aspeto básico) até a elementos gramaticais de que são exemplo os verbos de operação aspetual ou os tempos verbais (aspeto derivado).»* 

    Pode, no entanto, esclarecer-se que os valores básicos do aspeto gramatical são o imperfetivo, que apresenta a situação expressa pelo enunciado como ainda em curso e não concluída (1), e o perfetivo, que apresenta a situação expressa pelo enunciado como concluída, como um todo completo (2):

(1) «O Ricardo pintava uma aguarela.»

(2) «Escrevi ontem um texto.»

    Quanto à distinção entre os valores aspetuais habitual e iterativo, pode elucidar-se aqui

    Na frase «Eles iam todos os dias ao cinema», podemos considerar que se trata do valor aspetual iterativo, visto que refere uma pluralidade ...

Pergunta:

Posso conjugar somente o verbo vir? Alguns verbos são ruins de conjugar, principalmente no subjuntivo/conjuntivo. Então eu uso o verbo vir, para não haver erro. Ex: em vez de conjugar a primeira pessoa do singular do verbo reaver no pretérito imperfeito do subjuntivo como "se eu reouvesse", eu costumo usar "se eu viesse a reaver". É correto? Posso usar em todos os verbos?

Resposta:

    Em termos teóricos, isto é, sem conhecer o contexto, utilizar o verbo vir como auxiliar com o infinitivo do verbo principal antecedido da preposição a, como apresenta no seu exemplo, é correto, podendo também fazê-lo com qualquer verbo. É preciso, contudo, não esquecer que essa locução verbal indica, segundo Celso Cunha e Lindley Cintra *, «o resultado final da acção:

                   Vim a saber dessas coisas muito tarde.

                   Veio a dar com os burros na água.»

    Na sua condição de verbo auxiliar, vir também se emprega: 

«a) com o GERÚNDIO do verbo principal, para indicar que a acção se desenvolve gradualmente (...):

                    Vinha rompendo a madrugada.

                    Venho tratando desse assunto.

b) com o infinitivo do verbo principal, para...

Pergunta:

Não sendo português, quando vim para Portugal, fiz algumas confusões com mil milhões e biliões, que esclareci através deste site. (Muito obrigado!) No entanto, já falei com alguns colegas e parece que ninguém é capaz de passar acima do milhar de milhão na leitura por extenso de um número. Qual seria a leitura do seguinte número em português de Portugal? 18 446 744 073 709 551 615

Obrigado e parabéns pelo vosso trabalho!

Resposta:

A questão da nomenclatura dos grandes números foi já por diversas vezes tratada no Ciberdúvidas, ao longo dos anos, assim como as diferenças relativamente ao Brasil e aos EUA [Cf.Textos Relacionados]. 

Em Portugal, assim como em outros países, um trilião corresponde a 1 000 000 000 000 000 000, segundo a norma portuguesa N18 (1960) “Nomenclatura dos Grandes Números”, substituída pela NP 18:2006 (Ed.3), (Instituto Português da Qualidade), e o Código de Redação da União Europeia.  

O número 18 446 744 073 709 551 615 pode ser lido de duas formas:

  • dezoito triliões, quatrocentos e quarenta e seis mil biliões, setecentos e quarenta e quatro biliões, setenta e três mil milhões, setecentos e nove milhões, quinhentos e cinquenta e um mil seiscentos e quinze;

  • dezoito triliões, quatrocentos e quarenta e seis milhares de bilião, setecentos e quarenta e quatro biliões, setenta e três milhares de milhões, setecentos e nove milhões, quinhentos e cinquenta e um milhares, seiscentas e quinze unidades.

Cf.  Milhões, Mil milhões, Biliões ou Triliões? Esclareça a confusão!

Pergunta:

Gostaria de saber, das frases a seguir apresentadas, qual será a correta.

«Nem a Joana nem a Maria querem jantar.»

Ou:

«Nem a Joana nem a Maria quer jantar.»

Obrigada

Resposta:

Quando o sujeito composto é formado por palavras no singular ligadas por nem:

 – o verbo conjuga-se no singular, se se referir a um só sujeito:

  «Nem tormenta nem tormento os poderia parar.» (Cecília MeirelesObra Poética)

 

 – o verbo conjuga-se no plural, se o facto expresso pelo verbo pode ser atribuído a todos os sujeitos:

«Nem a monotonia nem o tédio a fariam capitular agora.» (Ciro dos Anjos, Montanha)

 

Portanto,  «Nem a Joana nem a Maria querem jantar.» será a frase mais adequada.

 

Fonte: