Aura Figueira - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Aura Figueira
Aura Figueira
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Licenciada em Línguas e Literaturas Modernas, variante de Estudos Portugueses e Franceses, pela Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa, com uma pós-graduação em Ciências da Documentação e da Informação, variante de Biblioteconomia. É professora de português dos ensinos básico e secundário. 

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

A propósito do momentoso referendo na Catalunha e as suas consequências, tive a curiosidade de querer confirmar os gentílicos das restantes 16 comunidades autonómicas e das respetivas capitais, incluindo as de província – 48 no total. Como não constam, na sua totalidade, em qualquer dos muitos esclarecimentos sobre gentílicos estrangeiros no Ciberdúvidas, gostava de saber se está certo o que consta na Wikipédia

[aqui:https://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_de_gent%C3%ADlicos_de_Espanha].

Os meus agradecimentos.

Resposta:

Após consulta no VOLP, nos dicionários de língua portuguesa Aurélio, Houaiss, da Academia das Ciências e no Grande Dicionário da Porto Editora, verificou-se que uma pequena parte dos gentílicos de Espanha disponibilizados pela Wikipédia não se encontravam corretos. Procedemos à edição e correção da página, que, neste momento, se encontra devidamente atualizada, salvo nos casos aqui assinalados* e para os quais não encontrámos qualquer registo.

Segue-se a lista dos gentílicos:

COMUNIDADES AUTÓNOMAS

Andaluzia – andaluz

Aragão – aragonês ou aragonense

Astúrias – asturiano

Baleares – baleárico

Pergunta:

Como é que se divide e classifica a seguinte oração?

«A entrevista desta semana é mais interessante do que a da semana anterior.»

Resposta:

Na frase apresentada, encontramos:

1. uma oração subordinante: «A entrevista desta semana é mais interessante»

2. uma oração subordinada adverbial comparativa: «do que a da semana anterior.»

A forma verbal da oração subordinada adverbial comparativa está elidida, como acontece frequentemente nestas orações: «do que (foi) a da semana passada.»

Pergunta:

A redução da oração "Eu não permiti que Carlos me desacatasse" para "Eu não o permiti a me desacatar" pode ser considerada correta? Ou somente "Eu não lhe permiti me desacatar" é correta na norma culta?

Resposta:

 Tendo como pressuposto a classificação dos verbos PERMITIR e DESACATAR, como transitivo direto e indireto, e transitivo direto, respetivamente, a análise das frases 1) e 2), propostas pela nossa consulente, permitir-nos-á chegar à conclusão desejada:

1.«Eu não permiti que Carlos me desacatasse.»

1.1. Oração subordinante - Eu não permiti

     1.1.1. Sujeito - Eu

     1.1. 2. Predicado - não permiti que Carlos me desacatasse

     1.1.3. Complemento Direto - que Carlos me desacatasse

1.2. que Carlos me desacatasse - oração subordinada substantiva completiva finita

     1.2.1. Sujeito – Carlos

     1.2. 2. Predicado - me desacatasse

     1.2.3. Complemento Direto - me

 

2. «Eu não lhe permiti me desacatar.»

2.1. Oração subordinante - Eu não lhe permiti

     2.1.2. Sujeito - Eu

     2.1.3. Predicado - não lhe permiti me desacatar

     2.1.4. Complemento direto - me desacatar

     2.1.5. Complemento indireto - lhe

Pergunta:

Tenho uma dúvida que há muito tempo me incomoda. Tudo que desejo entender é se locução verbal possui algum complemento, seja objeto direto ou indireto. Como nesse exemplo bastante simples: «Eles estão procurando emprego». A palavra «emprego» seria considerada objeto direto da locução?

Resposta:

A resposta a uma pergunta semelhante já foi dada aqui.

Segundo o Dicionário Terminológico, o predicado é a função sintática desempenhada pelo grupo verbal – que supomos que seja o que significa a sua expressão "locução verbal" –, sendo o complemento direto selecionado pelo verbo e uma das funções sintáticas internas ao grupo referido. 

Na sua frase «Eles estão procurando emprego.», a palavra emprego desempenha, de facto, a função sintática de complemento direto, visto que o verbo procurar se classifica como transitivo direto*. 

*in Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa

Pergunta:

Nas frases «Cá fora, havia nevoeiro, ou então um espesso teto de nuvens baças.» e «então» é um advérbio ou não? ,«cá fora» são dois advérbios ou é uma locução adverbial?

Outro exemplo: «Detinha-me para comprar o cartucho de castanhas, que logo metia nos bolsos já largueirões do casaco.» . O «já» o que é neste contexto? Advérbio não me parece...

Resposta:

e fora terão de ser considerados dois advérbios e não uma locução adverbial, visto que esta se forma da associação de uma preposição com um substantivo, com um adjetivo ou com um advérbio. *

Então. Considerando a palavra isoladamente, nenhum dos vários significados propostos pelos dicionários consultados ** se adequa ao contexto, pelo que não pode ser  separada de ou. Assim, ou então será uma locução conjuncional coordenativa disjuntiva.

Já é um advérbio que, no caso em apreço, acrescenta uma informação sobre o efeito do tempo decorrido («naquele momento»**) relativamente ao adjetivo «largueirões».

 

* in Nova Gramática do Português Contemporâneo, Celso Cunha e Lindley Cintra

** Dicionário Houaiss da Língua PortuguesaDicionário Infopédia da Língua Portuguesa; Dicionário Priberam da Língua Portuguesa