Aura Figueira - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Aura Figueira
Aura Figueira
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Licenciada em Línguas e Literaturas Modernas, variante de Estudos Portugueses e Franceses, pela Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa, com uma pós-graduação em Ciências da Documentação e da Informação, variante de Biblioteconomia. É professora de português dos ensinos básico e secundário. 

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

«Foi a poesia, antes da psicanálise, que nos tornou conscientes desta perturbante verdade existencial: somos múltiplos, habitados por heróis e vilões que se digladiam em silêncio dentro de nós.» Qual a função sintática desempenhada pela oração introduzida por que, na primeira linha?

Resposta:

    Consideremos a frase em análise:

   «Foi a poesia, antes da psicanálise, que nos tornou conscientes desta perturbante verdade existencial (...)

    O aparente pronome relativo que, que inicia a segunda oração, faz parte de uma construção clivada¹ com o verbo ser, como forma de destacar um dos constituintes da frase, neste caso, o sujeito, e não podemos considerá-lo introdutor de uma oração subordinada relativa, de acordo com Sofia Gonçalves2

    «A solução que consistiria na identificação de clivadas com frases relativas com antecedente é de rejeitar, uma vez que a construção nem tem propriedades de relativa restritiva nem de relativa apositiva. Uma das razões principais para a não aproximação entre relativas e clivadas é que neste tipo de construções...

Pergunta:

«Respondi-lhe» ou «perguntou-me» são considerados polissílabos?

Resposta:

    As palavras que refere têm a mesma classificação no que respeita ao número de sílabas e ao acento tónico: são trissílabos agudos seguidos de um monossílabo átono, o pronome pessoal.

    Segundo Evanildo Bechara*, «Há vocábulos (...) que têm individualidade fonética e, portanto, acento próprio, ao lado de outros sem essa individualidade. Ao serem proferidos acostam-se ou ao vocábulo que vem antes ou ao que os segue. Por isso, são chamados clíticos (que se inclinam), e serão proclíticos se se inclinam para o vocábulo seguinte (o homem, eu sei, vai ver, mar alto, não viu) ou enclíticos, se para o vocábulo anterior (vejo-me, dou-a, fiz-lhe). Os clíticos são geralmente monossilábicos que, por não terem acento próprio, também se dizem átonos.»

  A este respeito, pode ver também respostas dadas anteriormente no Ciberdúvidas, consultáveis aqui e aqui

Pergunta:

Tendo surgido várias divergências na classificação da oração iniciada por que, solicito a vossa ajuda para a sua classificação. A frase é a seguinte: «…estou aqui, há séculos, nesta capital de Império que, mesmo sem Império, continua a ser uma das grandes capitais do mundo.»

Obrigada.

Resposta:

    A frase «…estou aqui, há séculos, nesta capital de Império que, mesmo sem Império, continua a ser uma das grandes capitais do mundo.» divide-se em duas orações:

1.ª – «...estou aqui, há séculos, nesta capital de Império» – oração subordinante

2.ª – «que, mesmo sem Império, continua a ser uma das grandes capitais do mundo.» – oração subordinada adjetiva relativa restritiva [restringe a informação dada sobre o seu antecedente (capital de Império), razão pela qual não está separada por vírgula, desempenhando a função sintática de modificador restritivo do nome].

 

Fonte: Dicionário Terminológico

Pergunta:

Diz-se: «maioria de razões» ou «maioria de razão»?

Resposta:

Por maioria de razão é a expressão que surge no Dicionário Infopédia da Língua Portuguesa e no Grande Dicionário da Língua Portuguesa, da Porto Editora, com o significado de «com mais razão; com maior justiça»:

1. « (...) a lei atribui o direito a tal subsídio, por maioria de razão (...)» 

No entanto, utiliza-se também maioria das razões, com o nome razão obrigatoriamente no plural, na aceção de «justificações, argumentos», antecedido da preposição de contraída:

2. «A maioria das razões apresentadas era convincente.»

Pergunta:

A fronteira entre a coesão referencial e a lexical nem sempre é fácil! Surgiu-me uma dúvida em relação ao tipo de coesão que o termo «livros» configura no seguinte enunciado:

«Esta publicação do autor inclui várias poesias cuja escrita corresponde ao tempo de publicação dos seus livros, desde Peregrinação até Exorcismos e Conheço o Sal, mas que não foram incluídos neles.»

Tratando-se de um hiperónimo, o vocábulo «livros» aponta para uma coesão lexical, mas não poderá considerar-se uma catáfora lexical, tendo em conta que há uma clarificação dessa realidade logo a seguir, quando se explicita os títulos dos livros? Neste sentido, tratar-se-ia de uma cadeia de referência, pelo que já não se poderia tipificar como coesão lexical.

Qual a vossa opinião?

Resposta:

     Se consultarmos o Dicionário Terminológico, verificamos que tanto a coesão lexical como a coesão referencial, designada por cadeias de referênciaconstituem procedimentos que contribuem para a coesão textual.

    A diferença entre ambas é que a primeira se socorre de «reiterações e substituições lexicais», aquilo que, na TLEBS, se designava de «Mecanismo de coesão textual que envolve a repetição da mesma unidade lexical ao longo do texto ou a sua substituição por outras unidades lexicais que com ela mantêm relações semânticas de natureza hierárquica (hiponímiahiperonímia) ou não hierárquica (sinonímiaantonímia).», enquanto a segunda «pode ser constante (por exemplo, D. Afonso Henriques, e com a maior parte dos usos de nomes próprios) ou v...