Ana Rita B. Guilherme - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Ana Rita B. Guilherme
Ana Rita B. Guilherme
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Licenciada em Línguas e Literaturas Modernas-Estudos Portugueses e Ingleses pela Faculdade de Letras de Lisboa; mestre em Linguística Portuguesa pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa; investigadora do Centro de Linguística da Universidade de Lisboa.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Sendo correcto escrever videoarte, videoartista e videoinstalação, qual o género dos mesmos? «A» ou «O videoarte»?

Resposta:

Videoarte é um substantivo feminino. Não encontrei nos dicionários a atestação das palavras videoartista e videoinstalação, nomeadamente no Dicionário Houaiss de Língua Portuguesa e no Dicionário de Português, da Porto Editora.

Todavia, tendo em conta a composição morfológica das palavras em causa, videoartista é um substantivo masculino, e videoinstalação é um nome feminino. Por outras palavras, o género de palavras compostas, formadas por um radical de origem grega ou latina e por um substantivo, é determinado sempre pelo segundo elemento: «a arte» > «a videoarte»; «o artista» > «o videoartista»; «a instalação» > «a videoinstalação».

Sempre ao seu dispor.

Pergunta:

Gostaria de obter informações sobre a seguinte situação: na situação «o Gigante, fechado no seu castelo, estava constipado...», a palavra fechado, morfologicamente, é o particípio passado do verbo fechar; no entanto, se um aluno a considerar um adjectivo qualificativo no grau normal, essa resposta pode ser considerada errada?

Agradeço desde já a vossa atenção e espero o vosso esclarecimento.

Resposta:

A palavra fechado é de facto o particípio passado do verbo fechar. Todavia, os particípios passados, por serem formas verbais nominais, apresentam muitas semelhanças com os adjectivos. Em termos morfológicos, tal como os adjectivos, declinam em género e número. Veja-se o seguinte exemplo:

(i) «A princesa, fechada no seu castelo, estava constipada.»

O particípio fechada está a concordar com o nome singular, feminino.

E, em termos sintácticos, os particípios passados também se comportam como os adjectivos, já que mudam o nome a que estão associados:

(ii) «A princesa está fechada.»
(ii) «O Gigante, fechado no seu castelo, estava constipado.»

Em ambas as frases, os dois particípios, fechada e fechado, modificam o nome, respectivamente «princesa» e «o Gigante».

Além disso, muitos dicionários atestam os particípios também como adjectivos. Neste sentido, não será incorrecto considerar-se estes particípios como adjectivos. 

Sempre ao seu dispor.

Pergunta:

Ao estudar correlação verbal (assunto com pouco material), deparei-me com muitas dúvidas. Gostaria de saber se estas frases estão corretas em relação a esse aspecto. Além disso, peço que me mostrem a diferença de sentido entre as duas.

1) «Na minha infância, eu pedi que Fernanda seja minha namorada.»

2) «Na minha infância, eu pedi que Fernanda fosse minha namorada.»

Agradeço a atenção.

Resposta:

A coesão textual tem que ver com processos de sequencialização no enunciado que mantêm uma relação linguística coerente ou coesa entre os elementos da frase. Os processos de coesão textual são os seguintes: coesão gramatical e coesão lexical. O primeiro processo engloba a coesão frásica, intrafrásica, temporal e referencial.

A coesão temporal ou a correlação verbal é o processo que assegura uma coerência lógica entre tempos verbais. Quando o enunciado é sobre um acontecimento passado, os tempos activados são o pretérito perfeito, imperfeito ou pretérito mais-que-perfeito. O pretérito perfeito expressa uma situação terminada. Neste sentido, a frase 1) está incorrecta ao nível da correlação verbal, porque o tempo gramatical da frase principal («Na minha infância, eu pedi») é o pretérito perfeito e está a articular-se com o presente do conjuntivo («que Fernanda seja minha namorada»), criando assim um desajuste temporal.

A frase 2) está correcta porque ambos os tempos gramaticais dos verbos em causa são pretéritos: o primeiro é o pretérito perfeito do indicativo (pedi), e o segundo, o pretérito imperfeito do conjuntivo (fosse). O uso no conjuntivo neste caso deve-se ao facto de ser uma frase subordinada, e este modo é o modo por excelência de construções subordinadas.

Bibliografia: Mateus, Maria Helena et aliae (2003), Gramática da Língua Portuguesa, Caminho, Lisboa.

Sempre ao seu dispor.

Pergunta:

A palavra edifício é primitiva, ou edificar é o primitivo?

Muito obrigado.

Resposta:

De acordo com o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, tanto edificar como edifício derivam do elemento de composição edific-. Este elemento deriva do latim aedes, is e significa «lar, local onde se faz o fogo, a lareira».

Sempre ao seu dispor,

Pergunta:

Tendo em conta as preposições de, em, a, por, de um modo simples, como posso eu explicar em que caso se deve usar cada uma?

Obrigada!

Com simpatia e votos de continuação de um bom trabalho.

Resposta:

As preposições são palavras gramaticais, i. e., não têm conteúdo semântico e servem para relacionar dois termos de uma frase. A mesma preposição pode adquirir vários significados, dependendo da relação que estabelece com os termos da frase, pelo que sugiro que consulte uma gramática do português para uma consulta mais profunda sobre este assunto, por exemplo, a Nova Gramática do Português Contemporâneo, de Celso Cunha e Lindley Cintra.

No entanto, as preposições em causa podem indicar o seguinte:

(i) a — Noção de movimento: «Vamos a casa buscar o casaco.»
        Noção de tempo: «Eles vão a Paris daqui a um ano.»

(ii) de — Noção de espaço: «Já estamos a sair de casa.»
          Noção de tempo: «Eles visitam-me de vez em quando.»
 
(iii) em — Noção de espaço: «Os rapazes entraram em casa a correr.»
           Noção de tempo: «Chove muito em Abril.»

(iv) por — Noção de espaço: «Vai por esse caminho.»
            Noção de tempo: «O Pedro vai estudar fora por muito tempo.»

Como foi mencionado antes, estas preposições podem ter outros valores, mas estas noções são bastante comuns. Mais, alguns verbos regem certas preposições, ou seja, certos verbos exigem certas preposições, como, por exemplo:

(i) «gostar de»; «precisar de»; «pensar em».

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