Pergunta:
Eu e um colega meu tradutor temos por vezes algumas discussões sobre o uso das vírgulas. Gostaria de saber se, nas duas frases abaixo que dou como exemplo, é absolutamente imprescindível o uso da vírgula tal como apresentada, ou se esta pode ser dispensada. Se possível, gostaria de saber em que regra gramatical se baseia a vossa resposta.
«Às características estéticas e de design, associa-se um componente tecnológico inovador constituído por uma interface simples e intuitiva.»
«A cada uma das configurações, está associada uma sequência de cor predefinida.»
Obrigada pela atenção.
Resposta:
A pontuação é um sistema gráfico que serve para regular a representação escrita dos aspectos prosódicos da língua, nomeadamente as pausas e a entoação. Além disso, os sinais de pontuação também obedecem a conceitos sintácticos e semânticos, pois a presença ou não de um sinal de pontuação pode tornar a construção agramatical ou até alterar o sentido da frase.
No sistema de pontuação, a vírgula marca uma pausa breve e deve colocar-se nos seguintes constituintes da frase:
i) Modificadores:
«O João, muito atencioso, emprestou-me o livro.»
ii) Predicados secundários não selecionados pelo verbo:
«A Maria, a rir, contou-nos a sua aventura.»
iii) Orações intercaladas
«O professor, dizia-se, conhecia todos os nomes de rios da Península Ibérica.»
iv) Grupos coordenados assindeticamente:
«O Sol, a Lua, as estrelas e os planetas são elementos maravilhosos do universo.»
v) Constituintes antepostos:
«Esse filme, ainda não o vi.»
vi) Orações relativas não restritivas:
«A Rita, que mora em Coimbra, foi estudar para Lisboa.»
As frases que dá como exemplo encaixam-se no ponto v), ou seja, em ambas há um constituinte anteposto, pelo que a presença da vírgula é necessária.
Bibliografia:
Duarte, I. (2000), Língua Portuguesa, Instrumentos de Análise, Universidade Aberta, Lisboa.