Ana Martins - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Ana Martins
Ana Martins
50K

Licenciada em Línguas e Literaturas Modernas – Estudos Portugueses, pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto, e licenciada em Línguas Modernas – Estudos Anglo-Americanos, pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Mestra e doutora em Linguística Portuguesa, desenvolveu projeto de pós-doutoramento em aquisição de L2 dedicado ao estudo de processos de retextualização para fins de produção de materiais de ensino em PL2 – tais como  A Textualização da Viagem: Relato vs. Enunciação, Uma Abordagem Enunciativa (2010), Gramática Aplicada - Língua Portuguesa – 3.º Ciclo do Ensino Básico (2011) e de versões adaptadas de clássicos da literatura portuguesa para aprendentes de Português-Língua Estrangeira.Também é autora de adaptações de obras literárias portuguesas para estrangeiros: Amor de Perdição, PeregrinaçãoA Cidade e as Serras. É ainda autora da coleção Contos com Nível, um conjunto de volumes de contos originais, cada um destinado a um nível de proficiência. Consultora do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa e responsável da Ciberescola da Língua Portuguesa

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Nas respostas 21160 e 18289, a análise de estruturas iguais divergiu. Ainda questiono, em «Faz dois dias que não vejo TV», se o verbo fazer é impessoal por indicar tempo decorrido, «que não vejo TV» não poderia ser seu sujeito, logo o que não é conjunção integrante aqui. Por outro lado, se digo que tal que é pronome relativo de toda a sentença anterior («Faz dois dias»), sua única função sintática seria de adjunto adverbial de tempo, certo? Assim, por que não interpretar tal que como também como conjunção temporal? Seria ele expletivo? Ainda não sei a verdade sobre esse que!

Ajudem! Grato.

Resposta:

1. Que não é conjunção integrante, como diz.

2. Que não é pronome relativo. As orações relativas que têm como antecedente outra oração apresentam um carácter apositivo e constituem um comentário sobre a proposição encerrada na oração anterior. Nesse caso, antecede o pronome relativo uma expressão anafórica:

«Vi televisão durante 2 dias, o/coisa/situação que me deixou deprimida.»

3. Que não é conjunção temporal: o sentido de decurso temporal está a cargo do verbo fazer — daí o uso impessoal do verbo, como refere.

4. Expletivo: é, de entre as opções que põe em consideração, a classificação mais acertada. «Faz dois dias» é um adverbial de tempo focalizado e, como tal, deslocado para a esquerda; tem aí uma mera função de apoio estrutural à alteração canónica da ordem dos constituintes:

«Não vejo televisão faz dois dias» (ordem natural dos constituintes).

«Faz dois dias que não vejo televisão» (ordem dos constituintes que serve a atribuição de foco).

Marcia dos Santos Machado Vieira (da Universidade Federal do Rio de Janeiro) classifica-o como um conector.

(Consultar: http://www.filologia.org.br/xcnlf/15/14.htm)

N. E.: A pergunta 21160 foi, entretanto, reformulada.

Decorreu, no início desta semana, o Encontro Comemorativo dos 20 anos do Instituto de Linguística Teórica e Computacional (ILTEC). Completamente ignorado pela imprensa, o evento teve a originalidade de contar com a participação conjunta de linguistas e não linguistas (jornalistas, escritores, tradutores, professores de português), no debate aceso sobre norma, variação e desvio,...

Corria o ano de 2004 quando o polemista Vasco Graça Moura se lembrou de dizer que «os linguistas têm ódio à literatura» (Pública, 1/02/04), julgando assim assinar o divórcio de uma separação de facto entre estudiosos da língua e especialistas em literatura.

<i>Ars Grammaticae</i>

 

Foi notícia desta semana: este ano há apenas 313 alunos inscritos para fazer exame nacional de Latim. O número de alunos a aprender latim diminuiu 80 por cento nos dois últimos anos.

O Instituto da Droga e da Toxicodependência (IDT) publicou, em www.tu-alinhas.pt, um "dicionário de calão", de que toda a gente ouviu falar no momento em que passou a estar offline. Aquilo que motivou a retirada de cena desta lista de termos foi, pelo menos, a definição de betinho e careta: «aquele que não consome droga, conservador, desprezível e desinteressante», tendo sido pedida a audição de João Goulão (presidente do IDT) na comissão parlamentar de Saúde.