Foi notícia em Março do ano passado: o Governo português destinou 9 milhões de euros para o relançamento do Algarve como destino turístico, com a transmutação do Algarve em "Allgarve".
O Verão está à porta e quem tencionar passar férias no Algarve terá de consultar a página do… "Allgarve": http://www.allgarve.pt/. O texto que aí se encontra sob o tópico «O que é o Allgarve» é aterrador. Não falo de falhas triviais (gravosas todavia) na colocação dos acentos ("espirito" em vez de espírito), no uso do hífen (ora "life-style", ora "lifestyle"), no recurso a maiúsculas (porquê Praia?). Refiro-me a erros estranhíssimos, que fazem pensar que o texto foi escrito em inglês e depois sujeito a tradução automática, sendo a versão em inglês igualmente péssima já.
«O programa de eventos "ALLGARVE" irá construir sobre o Algarve enquanto destino de oferta turística, acrescentando-lhe valor através da componente de animação.» Irá construir o quê? Construir é um verbo transitivo, precisa de complemento directo. O que quer que se construa, constrói-se «sobre o Algarve»: a preposição tem valor de assunto ou de lugar? O que se entende por «destino de oferta»? Não será «oferta de destino»? E o pronome lhe? Recupera que elemento na frase?
Outra passagem:
«Os visitantes do Algarve poderão assim ter um contacto de qualidade com o nosso país, vislumbrando a sua diversidade e estimulando-os a voltarem.» Sua do quê? Do Algarve ou do país? Pretende-se que os turistas vislumbrem, ou seja, que «tenham uma ideia imprecisa sobre algo»? Mais aberrante ainda: onde é que pára o sujeito de «estimulando-os»?
E pensar que parte dos 9 milhões foi para pagar ao autor de um texto destes…
Artigo publicado no semanário Sol de 12 de Julho de 2008, na coluna Ver como Se Diz.