Pergunta:
No texto «Do corredor, onde ela enfiava o vestido aos puxões, como se lutasse com as fúrias desencadeadas, a Dona Alzira gritou-me alegremente: "Não sejas calisto, homem de Deus! Até mete azar! Há agora pressa, qual o quê, está um tempo lindo, e com os dias compridos o que falta é tempo para a gente gozar! E depois, que importância tem isso, se eu for um bocado mais tarde?... É só carregar no pedal, e pronto!" E a velha senhora ria, ria nervosamente, perdida dentro do corpete do vestido apertado», de José Rodrigues Miguéis, tomando como referente «Dona Alzira», considera-se que o «eu», expresso dentro do discurso directo da personagem, é um termo anafórico (anáfora), ou, tendo em conta que é um discurso directo e que não se pode substituir por «Dona Alzira», considera-se apenas como deíctico pessoal?
Obrigada pela ajuda!
Resposta:
1. Há duas tipologias de deixis que importa considerar, em função dos parâmetros:
(i) componente do contexto situacional, que é activada pelo uso do deíctico (deixis pessoal, espacial, temporal ou modal);
(ii) tipo de contexto compartilhado: contexto situacional ou físico (deixis indicial); contexto discursivo (deixis textual, com a função de anáfora ou catáfora).
O deíctico com função anafórica aponta para um segmento discursivo que lhe é precedente:
«O país está endividado, e isso faz subir o desemprego.»
2. Eu é sempre deíctico pessoal; eu é sempre deíctico indicial. O mesmo é válido para o deíctico tu.
Cf. O lugar da deixis na descrição da língua + A deixis e a referência deíctica (I) + A deixis e a referência deíctica (II)