A. Tavares Louro - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
A. Tavares Louro
A. Tavares Louro
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Licenciado em Línguas e Literaturas Modernas — Estudos Portugueses e Franceses pela Faculdade de Letras de Lisboa. Professor de Português.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Em «Onde lhe dói?», qual é o sujeito e sua classificação? Tal frase gerou muita polêmica.

Grato.

 

Resposta:

Na frase «Onde lhe dói?», o sujeito não está expresso. Só o contexto poderá esclarecer o que se pretende saber. Esta pergunta constitui uma síntese de frases interrogativas equivalentes a: «Qual é a parte do corpo onde lhe dói?» ou «Qual o órgão onde lhe dói?»

Estas perguntas dão relevo ao lugar. Por isso, a resposta poderá ser:

— «Dói-me no pé direito!»

ou

— «Dói-me aqui!»

Nestas construções, o verbo doer é usado impessoalmente, e ocorre um adjunto adverbial («no pé direito» e «aqui»).

Contudo, o paciente pode preferir indicar a parte do corpo que lhe dói. Nesse caso, poderá dizer:

— «Dói-me o pé direito!»

Nesta resposta, o sujeito está explícito: trata-se de «o pé direito».

Pergunta:

Peço que mande o aumentativo e diminutivo das palavras luva, chão, dinheiro, calça e anel.

Obrigado.

Resposta:

A palavra luva tem como diminutivos: luvinha, luvita, luvazinha, luvazita e, depreciativamente, luvazeca.

Não tem uso a forma sintética do aumentativo, porque as formas analíticas são mais adequadas. Exemplos: «luva enorme, pesada, desproporcionada», etc.

A palavra chão raramente se usa no diminutivo, no entanto, poderão surgir: chãozinho, chãozito e, depreciativamente, chãozeco.

O aumentativo sintético não tem uso. O aumentativo só surge em formas analíticas adequadas a cada caso concreto.

O palavra dinheiro apresenta os diminutivos: dinheirinho, dinheirito, dinheirozinho, dinheirozito e, depreciativamente, dinheireco e dinheirozeco.

Como aumentativo, usamos dinheirão e, por vezes, dinheirãozão.

O campo semântico do dinheiro é, realmente, muito rico.

A palavra calça tem como diminutivos: calcinha (com significado ambíguo, porque também significa «cueca» no Brasil), calcita, calçazinha, calçazita e, depreciativamente, calçazeca.

O aumentativo sintético não tem uso, pois calção tem um significado próprio e bem preciso. O aumentativo é possível com formas analíticas: «calça enorme», «excessivamente larga», etc.

A palavra anel tem como diminutivos: anelinho, anelito, anelzinho, anelzito

Pergunta:

Trabalho com revisão de textos e tenho dúvidas acerca da seguinte frase:

«Santiago olhou por sobre os ombros para o resto da turma.»

A expressão «olhou por sobre os ombros» confere? Neste caso podemos usar duas preposições?

Obrigada.

Resposta:

A locução prepositiva «por sobre» está registada em vários dicionários da língua portuguesa.

Frequentemente, «por sobre» acompanha a ideia de «passar um obstáculo sem que este seja tocado».

O contexto pode determinar o uso desta locução. Não é previsível que alguém diga «o avião passou por sobre a cidade», pois sobre é suficiente.

No caso de «olhou por sobre os ombros», a locução «por sobre» coloca o olhar bem por cima dos ombros.

Pergunta:

Será que se pode utilizar a expressão «cardume de estrelas»?

Resposta:

Em sentido denotativo (ou descritivo), não é usual o substantivo (ou nome) colectivo cardume surgir em frases como «cardume de estrelas».

No entanto, em sentido conotativo (ou simbólico), poderemos usar a expressão «cardume de estrelas» porque as estrelas possuem a beleza do brilho e da serenidade dos peixes em movimento, como é evidente no Oceanário de Lisboa.

Pergunta:

Gostava que me dissessem qual a frase mais correcta:

«Proposta de aprovação do protocolo» ou «Proposta para aprovação de protocolo.»

«Proposta de rectificação da transferência» ou «Proposta para rectificação da transferência».

Obrigada.

Resposta:

No Dicionário de Regimes de Substantivos e Adjetivos, de Francisco Fernandes, atesta-se o uso da palavra proposta apenas com as seguintes preposições:

1. a — «Sua proposta à editora foi aceita.»

A preposição introduz um complemento que se refere ao destinatário da proposta.

2. para — «As propostas para a paz foram aceitas pelos beligerantes.»

Como a preposição para indica sobretudo o destino e o fim, o complemento «para a paz» reporta-se à finalidade da proposta.

É de notar, porém, que o uso de proposta está também associado à preposição de, que tem variadas utilizações, visto que estabelece relações de lugar de onde, tempo, causa, posse, origem etc. Esta preposição pode introduzir um complemento que expressa a coisa que é proposta; é o que atesta o Dicionário de Usos do Português do Brasil, de Francisco S. Borba:

«Hillary cometeu muitos erros na sua proposta de reforma do sistema médico americano.»

Em síntese, todos os exemplos do emprego de proposta incluídos na pergunta estão correctos.