A. Tavares Louro - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
A. Tavares Louro
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Licenciado em Línguas e Literaturas Modernas — Estudos Portugueses e Franceses pela Faculdade de Letras de Lisboa. Professor de Português.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

A palavra "desconstruível" é aceitável?

Grata pela atenção.

Resposta:

A palavra desconstruível é aceitável, porque existe a palavra construível (cf. Dicionário Hoouaiss), embora de uso muito limitado.

Perante a necessidade da construção de um pavilhão que convém desmontar com bom reaproveitamento dos materiais utilizados, poderemos dizer que esse edifício temporário é economicamente desconstruível.

Em relação à robótica, poderemos dizer que um dado modelo é facilmente construível, desconstruível e recuperável.

Pergunta:

Gostaria de confirmar se hipopótamo, arara, girafa, zebra, pinguim, pintinho, peixe, tartaruga e tucano são todos substantivos epicenos.

Resposta:

Distinguimos o género masculino do género feminino nos animais domésticos, visto que, normalmente, as fêmeas são muito valorizadas.

Os animais pequenos ou selvagens são nomeados de um modo menos preciso. No entanto, como o leão e a leoa, embora selvagens, são facilmente distinguíveis, têm designações especiais.

Das palavras apresentadas, podem surgir designações especiais para hipopótama e pintinha, especialmente quando referidas por pessoas que têm contato direto com estes animais. No entanto, com a exceção de pintinho, que tem o feminino pintinha, os outros substantivos da série proposta pelo consulente são todos epicenos, isto é, o nome do animal tem a marca morfológica de apenas um género ou apenas lhe é atribuído um género. Na necessidade de formar o género em falta, recorre-se aos substantivos macho e fêmea precedidos de hífen: hipopótamo-fêmea, arara-macho, girafa-macho, zebra-macho, pinguim-fêmea, peixe-fêmea, tartaruga-macho e tucano-fêmea. No Brasil, é corrente o emprego dos adjetivos macho e fêmeo, a concordarem com o substantivo que qualificam: hipopótamo fêmeo, arara macha.

Pergunta:

Sempre me questiono sobre o uso da crase na expressão «atender a demanda». Esse a deve ser com ou sem crase?

Quanto à regência do verbo atender, quando se refere a solicitações, pedidos, sugestões, intimações etc., é verbo transitivo indireto, e no sentido de atendimento a pessoas, cidade, região, verbo transitivo direto. Já me disseram que o uso ou não da crase nessa expressão está correto, mas sempre fico na dúvida, se demanda se refere a quantidade ou procura, como, por exemplo, em frases do tipo «a cidade não consegue atender a/à demanda», «o posto de saúde não atende a/à demanda da região», «a empresa não atende à/a demanda de serviços», entre muitas outras.

Ficarei imensamente grata pela explicação sobre essa "expressão".

Resposta:

A primeira dificuldade desta questão encontra-se no facto de demanda ser um substantivo abtracto do género feminino, o que significa que o artigo definido feminino a pode em certos contextos ser confundido com a preposição a: «a (artigo) demanda está decorrer» vs. «vou recorrer a (preposição) demanda judicial». Por isso, poderemos simular com um substantivo abstracto do género masculino. Assim, vemos que poderemos dizer: «Ele atendeu o pedido do meu irmão» ou «Ele atendeu ao pedido do meu irmão».

Com os substantivos concretos e referidos a pessoas, o verbo atender é, normalmente, usado sem preposição. Exemplo: «O médico atendeu o doente.» No entanto, em frases mais complexas, pode surgir a preposição a. Exemplo: «O médico atendeu o doente ao telefone», que é equivalente a «O médico atendeu o doente pelo telefone».

Sobre este assunto, apresentamos uma nota colhida em Celso Pedro Luft, Dicionário Prático de Regência Verbal, Editora Ática, São Paulo, 2006: «Atender (a) uma explicação, (a) um conselho.» Como vemos, com os substantivos abstractos, também usamos a preposição a ou usamos directamente o complemento objecto directo.

A frase «O posto de saúde não atende a demanda da região» é menos expressiva do que «O posto de saúde não atende à demanda da região».

Pergunta:

Qual o aumentativo e o diminutivo corretos (norma culta) da palavra maçã?

Resposta:

A palavra maçã poderá ter como diminutivos maçãzinha e maçãzita, porque, para além de indicarem pequeno tamanho, também podem revelar simpatia do falante por alguns desses frutos.

Depreciativamente, poderá ocorrer maçãzeca.

Os frutos das árvores raramente possuem tamanhos acima do normal. Por isso, raramente alguém terá oportunidade de dizer "maçãzorra" ou "maçãzona".

Convém reparar, de qualquer modo, que a palavra maçã requer o uso de formas dos sufixos de diminutivo e aumentativo com -z-: -zinha, -zita, -zorra, -zona.

Pergunta:

Não me recordo como se designam aqueles estabelecimentos comerciais tradicionais especializados na venda de cafés e chás (onde também é possível comprar-se bombons, biscoitos finos, compotas, máquinas de fazer café, etc.). Sei que têm uma designação específica. Podem ajudar-me, por favor?

Resposta:

Como estes estabelecimentos comerciais e, por vezes, industriais também vendem confeitos, amêndoas cobertas com açúcar e outras gulodices, têm frequentemente a designação de confeitarias.