No final do do ano de 2019, no âmbito do projeto "Dizeres", desenvolvido pelo Arquivo e Biblioteca Municipal de Sines, a Câmara Municipal de Sines lançou um glossário digital com expressões antigas que fazem parte do dia a dia da população de Sines.
Este glossário, realizado também com o apoio científico da Universidade de Évora, é fruto de uma recolha e documentação deste património imaterial que decorreu entre dezembro de 2018 e julho de 2019. Conta com 329 expressões trazidas para o concelho de Sines pela população algarvia, setubalense, cabo-verdiana e descendentes dos ílhavos. Apesar de estas não serem exclusivas da população deste concelho do litoral alentejano, adquirem aqui aceções próprias e são usadas e partilhadas em contextos específicos, nomeadamente nas atividades lúdicas e socioprofissionais. Este facto levou à exclusão do registo de expressões e termos que são partilhados e têm significados comuns a outras regiões de Portugal, principalmente do Alentejo.
As expressões encontram-se registadas alfabeticamente e organizadas de acordo com três campos de atividades tradicionais de Sines: "Terra", onde se reúnem termos referentes às comunidades agrícolas e aqueles que não dizem respeito a atividades piscatórias e portuárias; "Um Pé na Terra e um Pé no Mar", que reúne termos que tanto se caracterizam pelas atividades ligadas ao mar como pelas ligadas à terra – agricultura e pastorícia; e "Mar", que compila os termos referentes às atividades piscatórias, marítimas e portuárias. Em todo o glossário encontramos fotografias, com a devida legenda e fonte bibliográfica, que ilustram diversas expressões descritas e que servem de suporte para o melhor entendimento das mesmas.
No documento disponível em linha aqui, de A a Z, podemos ficar a saber o significado, por exemplo, de:
• Alvorar: «Encalhar os barcos, prendê-los.»
• Amanhador: «Pessoa que através de gestos e palavras cura uma maleita, nomeadamente relacionada com ossos deslocados.»
• Assilhar: «Parar, conservar-se em. Permanecer, ficar.»
• Bandaço: «Movimento do mar.»
• Banheira: «Roupa de ganga, usada para o banho de mar.»
• Broquista: «Operário corticeiro que fazia as rolhas recorrendo à broca.»
• Calamento: «Técnica de conservação das redes de pesca.»
• Canoas da picada: «Barcos de pequeno porte usados para o transporte de cargas.»
• Companha: «Tripulação de um barco de pesca.»
• Dar de corpo: «Descansar após uma tarefa árdua.»
• Descuxar, escuchar: «Remover a cabeça e as tripas do carapau.»
• Desemalhar: «Tirar o peixe da rede.»
• Enviajado: «Pessoa viajada.»
• Escorva (não vale uma…): «Pessoa sem valor.»
• Espalaiada: «Mulher afectada, sonsa.»
• Feco: Uma pessoa que olha fixamente para algo ou alguém.
• Garlopista: «Operário corticeiro especializado, que fazia as rolhas a partir dos quadros usando a garlopa.»
• Garruasso: Grande ventania, vendaval.
• Guines (não há…): «Não há dinheiro.»
• Invejão: «Homem assustador, que aparecia de noite para assustar as crianças.»
• Ir à maré: «Aproveitar a maré baixa para apanhar marisco, mariscar.»
• Ir à vila: «Vir da periferia para o centro do aglomerado urbano, no Alentejo.»
• Laborda: «Desarrumação, sujidade, porcaria.»
• Larido: «Zona intertidal, rochosa, onde há muito marisco e peixe.»
• Louça de arame: »Tachos e panelas de cobre.»
• Madre: «Cabo mestre que suporta a arte, seja aparelho, redes e/ou armadilhas (nassas, covos, alcatruzes).»
• Mantana: «Preguiçoso, sem iniciativa.»
• Mestre das enviadas: «Homem que governava a enviada.»
• Não-Te-Irrites: «Jogo de tabuleiro, de estratégia, para quatro jogadores. Joga-se [entre] homens e mulheres nas tabernas e cafés frequentados por pescadores.»
• Negritos: «Termo que designa uma erupção na pele, conhecida como empola.»
• Ó papa figos!: «Forma de tratamento pejorativa.»
• Orlado: «Diz-se quando a rede de pesca recebeu acabamento no seu contorno.»
• Ouriçada: «Reunião ao ar livre em que se assavam e comiam os ouriços-do-mar, pela Páscoa.»
• Paulito: «Jogo popular.»
• Pescocho: «Nascido.»
• Pingalhão: «Pessoa desajeitada, grande e mal vestida.»
• Quarteirão: «Vinte e cinco unidades de peixe. Medida de 25 peixes.»
• Quente de peixe: «Zona boa para a pesca, a que o peixe aflui.»
• Rabiscar ou Ao rabisco: «Apanhar fruta ou outros bens que sobravam de uma colheita ou de uma recolha sistemática, visto de forma pejorativa. Segundo Bluteau: “Rabiscar. Colher as uvas, cachos, ou escadeas, que ficarão da vindima.”»
• Remendar: «Coser a rede.»
• Ritas: «Mantas, cobertores.»
• Safar aparelho: «Depois da pesca, preparar as artes para outra ida ao mar.»
• Sardinhar: «Causar desconforto no estômago.»
• Sarmocina: «Discussão monótona e contínua.»
• Taratatá: «Espécie de peixe.»
• Terra da Ilha: «Topónimo na Ilha do Pessegueiro, visível para quem chega de barco e que é sinal de terra.»
• Tuna (dar ou levar): «Dar (ou receber» uma tareia.»
• Vender à voz: «Leilão de peixe.»
• Visitadeira: «Mulher que, na fábrica de conservas, inspeccionava o trabalho das outras.»
• Zanganilho: «Ventania, vendaval, vento muito forte.»
• Zipela: «Inchaço nas pernas, cara ou braços.»
• Zorro (rabo de…): «Limo apanhado nas praias.»
Nota: Na compilação dos termos presentes no glossário, manteve-se a grafia original.
Glossário organizado pelo Arquivo e Biblioteca Municipal de Sines e a Universidade de Évora.