Sob a chancela da Oficina do Livro, João Palma apresenta-nos a obra Sem Rei nem Roque, ilustrada pela mão do cartunista Rodrigo de Matos.
Neste pequeno livro podem encontrar-se «[...] despretensiosos textos [...]» (pág. 9) acerca de oito dezenas de ditados e expressões populares conhecidas e outras nem tanto. Trata-se de uma obra que apresenta ao leitor um conjunto de ditados e frases populares cuja origem e significado se procura esclarecer. Partindo do saber comum ou do conhecimento histórico ou ainda de informações recolhidas em publicações já existentes (como dicionários de naturezas diversas ou o próprio Ciberdúvidas da Língua Portuguesa), cada expressão é explorada na sua origem e significação plural.
A obra apresenta 70 entradas que se organizam em dupla página: na página da esquerda é apresentado o texto com as informações sobre a expressão / ditado popular, que é ilustrada por uma imagem da autoria de Rodrigo Matos, na página da direita. Estas ilustrações partem de uma interpretação literal da expressão a que se associa uma perspetiva humorística e, por vezes, inesperada, da situação descrita na expressão / provérbio.
A verdade é que se o significado de muitas destas expressões e ditados é do conhecimento geral, como por exemplo «trazer água no bico» (pág. 10), «custar os olhos da cara» (pág. 12), «não entender patavina» (pág. 30), «uma confusão dos diabos» (pág. 78), ou mesmo «de mão beijada» (pág. 118), já outras, como «mosquitos por cordas» (pág. 36), «alma até Almeida» (pág. 70), «um chato de galochas» (pág. 72), ou «dar às de Vila Diogo» (pág. 90), não o são.
Veja-se, por exemplo, o que o autor refere sobre «dourar a pílula», que significa «melhorar a aparência de algo» e tem origem na prática, «em tempos idos, [de] as farmácias, para refinar o aspecto de remédios supostamente amargos e difíceis de ingerir, os [embrulharem] em papel dourado». Se, ainda assim, restarem dúvidas, o leitor pode sempre olhar para a página ao lado do texto explicativo e confrontar o que é dito com as imagens bem-humoradas que ilustram as expressões populares.
Destaque em particular para o facto de a opinião/análise do Ciberdúvidas ser convocada para desenvolver a explicação de algumas entradas cuja origem será mais obscura ou mais controversa, como «Rir a bandeiras despregadas», «Ouro sobre azul», «Alfacinhas» ou «Por dá cá aquela palha». Uma referência que contribui também para comprovar a versatilidade e a extensão do interesse da atividade desenvolvida pelo Ciberdúvidas.
Constituindo um conjunto de apontamentos acerca da origem de tantas expressões comuns nas conversas diárias de tantos quanto falam português, Sem Rei nem Roque é de leitura agradável e divertida, complementada com excelentes ilustrações. A obra acaba somente por pecar por não apresentar, no final, a lista de referências bibliográficas consultadas. Não obstante, refira-se que, em diversos textos associados a cada expressão, a indicação da fonte é feita de forma clara e inequívoca.
Dentro da mesma temática, encontramos outros livros que têm esse cuidado, nomeadamente Puxar a Brasa à Nossa Sardinha.
Este é um espaço de esclarecimento, informação, debate e promoção da língua portuguesa, numa perspetiva de afirmação dos valores culturais dos oito países de língua oficial portuguesa, fundado em 1997. Na diversidade de todos, o mesmo mar por onde navegamos e nos reconhecemos.
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