Pelourinho - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
Início Português na 1.ª pessoa Pelourinho
Registos críticos de maus usos da língua no espaço público.

«Eu fui um dos que desapareceu (…)»,contou o que lhe acontecera num programa de ilusionismo José Carlos Malato, o apresentador do concurso da RTP 1, “A Herança.”1
     O apresentador foi um daqueles que desapareceram. Desapareceram vários, e ele foi um deles. A expressão «um dos que» pede uma forma verbal no plural, pois o sujeito é o pronome “que” relativo a “dos” (de + os = daqueles): «Eu fui um dos que desapareceram (…)».

«Os remédios na farmácia (…) saiem mais caros do que no Continente.»2
     Saem: assim se escreve correctamente a 3.ª pessoa do plural do presente do indicativo do verbo sair. É frequente este erro, devido à tentativa de representação escrita do que se ouve. Outras formas verbais com o mesmo tipo de terminação: caem, atraem, contraem, distraem, subtraem, traem.


«Moscovo apelou aos sequestradores de quatro russos para não os executar1
     A utilização do infinitivo pessoal ou flexionado (executar eu, executares tu, executar ele, executarmos nós, executardes vós, executarem eles) é objecto de alguma dificuldade. Para a ultrapassar, veja-se a regra geral: no caso de uma frase em que haja duas acções, se o sujeito for diferente, deverá usar-s...

     «Viva os estagiários» era um título na rubrica “Quentes & Boas” do jornal “24 Horas”1, da responsabilidade de Gracinha de Sousa Botelho.
     Primeiro erro, de concordância: tal como o sujeito («os estagiários»), também o verbo («viver») vai para o plural.
     Segundo erro: a frase tem de terminar com um ponto de exclamação.
     Portanto: «Vivam os ...

     Pior – pior, porque se trata da televisão pública portuguesa, com suplementares obrigações na defesa da língua – foi o erro cometido pelo mesmo jornalista, na véspera.
     «Passam a haver menos carros da Brigada de Trânsito nas principais auto-estradas do país», anunciou, em mais um atropelamento do verbo haver...

     «O Suécia-Inglaterra – lembrava no próprio dia do jogo o apresentador do “Jornal da Tarde” da RTP-1 – começa às 20 horas. Os nórdicos ainda não garantiram o apuramento, mas têm a tradição como aliado.» E, de seguida, lá veio o escusado e recorrente espanholismo: «O outro jogo do mesmo grupo [do...

Sílvia Alberto, apresentadora do concurso “Dança Comigo”, da RTP-1 1, referindo-se ao professor de dança e a ela própria: «... o mestre e a sua aprendiz...»
     Sendo certo que a Sílvia não deve ter dúvidas quanto ao seu género, conclui-se que é melhor ...

   A propósito da estreia mundial do filme O Código da Vinci, voltou a ouvir-se a troca do género do nome Opus Dei. É o Opus Dei, e não “a” Opus Dei. Preferindo-se em português, então, sim, é a Obra de Deus.

     Outro erro recorrente é o infinitivo (mal) flexionado.
     Veja-se este exemplo, do mesmo jornal: «Os dois demoraram mais de seis horas a arranjarem-se
     Deveria ter sido escrito «os dois demoraram (…) a arranjar-se. O infinitivo «arranjar-se» está ligado à forma verbal «demoraram» pela preposição «a». Nestes casos, o infinitivo não flexiona: «Eles demoraram a descer», «elas andam a ler»,...

     «Por que é que não se realça a beleza das senhoras de uma forma verdadeira (…)?», lia-se no jornal “24 Horas” de 15 de Junho p. p.
     Na construção «porque é que», a palavra porque é sempre um advérbio de interrogação, constituído, portanto, por uma única palavra: «Porque é que não se realça a beleza das senhoras (…)?»