Correm pelas salas de cinema portuguesas — de cinema e na TV, já agora — traduções e legendagens bem piores. Ao menos, neste filme1, que se tenha reparado, não há os “houveram” nem os “puderam haver” tão habituais no meio.
Mas há, tinha de haver, a redundância da moda do há anos “atrás”. Por várias vezes.
Por várias vezes também, aparece com duplo hífen (!) a 1.ª pessoa do plural de verbos na conjugação pronominal, tipo “faça-mo-nos”, “fala-mo-nos”, etc.
E a que propósito se escreve sempre “cartonista”, em vez de cartunista2?
Despropositada é, igualmente, a acentuação dos advérbios terminados em “mente”. Ainda por cima com acento agudo: “enérgicamente”3, “éticamente”, etc.
O resto é o habitual desleixo na grafia dos números (por exemplo: "2.500 suspeitos", em vez de «2500 suspeitos»). Ou na insistência no particípio passado “encarregue”. Ou, ainda, no uso indevido do por que em orações causais («Sabe porquê? Por que acredito»…).
Sinal — sinais — do défice de língua (portuguesa) em quem anda por aí encartado em línguas.
1 Zodiac, de David Fincher (EUA).
2 Ou é cartunista ou é humorista gráfico, como preferiram os tradutores do livro de Robert Graysmith (edição Magnólia, Vila Nova de Famalicão) em que se baseia o argumento do filme de David Fincher.
3 Para além do erro no acento, é inadequado dizer em português que a polícia «está a investigar energicamente»…