Pelourinho - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
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Registos críticos de maus usos da língua no espaço público.

É comum o recurso a expressões idiomáticas na comunicação social, inclusivamente nos títulos. «Sonae.com admite "voltar à carga" daqui a um ano» (Agência Financeira, 2/3/07), «IPPAR aponta o dedo à autarquia» (Rádio Renascença, 5/3/07), «Bush põe América Latina a ferro e fogo» (Portugal Diário, 10/3/07).

No "Jornal da Noite" da SIC de 16 de Março de 2007  foi noticiado que «o Governo português vai investir nove milhões de euros na promoção e realização de eventos no Algarve» e que, «para vender melhor a região, o Governo até aprova, e paga, uma mudança de nome de português para qualquer coisa tipo inglês: acrescenta-se um "...

Na última página da edição de 14 de Março do jornal 24 Horas, Joaquim Letria escreve que o presidente do Uruguai «ficou muito impressionado com a doação, manifestou a sua gratidão, mas avisou que não quer caridade e que preferia ter sido melhor tratado no âmbito do Mercosul (…)».

TelejornalRTP 1, 13 de Março p. p. Numa peça sobre as reacções ao aparecimento do bebé de Penafiel, que tinha sido raptado do Hospital Padre Américo, o pivô José Alberto Carvalho quer saber o que dizia o hospital perante o desfecho do caso. O repórter no local respondeu deste modo: «O hospital resume em poucas palavras, mas que se pode traduzir numa única só: emoção, alegria, satisfação. Tudo adjectivos para um único sentimento.»

«É bom de ver à lupa os golos do Benfica ontem à noite no Estádio da Luz», ouviu-se numa notícia do Diário da Manhã da TVI (13 de Março p. p.).

Obviamente está a mais a preposição de. O sujeito do predicado «é bom» é toda a sequência «ver à lupa os golos do Benfica ontem à noite no Estádio da Luz»: «ver à lupa os golos do Benfica é bom».

Exemplos da mesma situação: «É bom recordar o passado» (= recordar o passado é bom); «é bom aprender a ler» (= aprender a ler é bom).

A confusão entre «ir ao encontro de» e «ir de encontro a» continua a ler-se e ouvir-se nos meios de comunicação social portugueses. A jornalista Judite de Sousa, apresentadora do...

Jorge Gabriel, apresentador do Festival da Canção 2007, na RTP1 (10 de Março de 2007), referindo-se ao trabalho dos autores e dos intérpretes do concurso: «Para que estas dez canções aqui chegassem, tiveram de percorrer um longo percurso. É preciso muito trabalho, muita perseverança.» E articulou o s de perseverança como se fosse um z.

Já fazia falta um esclarecimento sobre o termo desblindagem, como o da Antena 1, no dia da assembleia-geral da PT. O termo não consta nos dicionários gerais e, no entanto, os principais órgãos de comunicação social usaram-no à vontade, sem recurso a glosa ou expressão equivalente.

«Esta tendência de subida [do petróleo] deve-se ao facto de as baixas temperaturas que se fazem sentir nos Estados Unidos provocarem o receio com um possível aumento na procura de combustíveis (…).» *

Construção correcta: «O receio de um possível aumento.»

Explicação: o substantivo receio pede um complemento iniciado pela preposição de.

Outros exemplos: «Tenho receio de que ele se magoe»; «ele tem receio das doenças».

* in Bom Dia, Portugal, RTP1, 7 de Março de 2007

«Eu tenho uma cara – estou a dar a cara – e não posso, como há-de imaginar, pedir uma votação do partido para, depois, vir a ser acusado de ter uma legitimidade diferente ou menor do actual presidente.»*

Nesta frase há dois aspectos a considerar. Em primeiro lugar, deveria ter sido dito «uma legitimidade diferente da do actual presidente» (uma legitimidade diferente da legitimidade do actual presidente) ou «uma legitimidade menor do que ...