A atualidade futebolística causa grande agitação emocional. Dando conta, por exemplo, do corrupio de jogadores entre clubes, as expetativas são de alucinar, ao ponto de se falar de «dia de loucos» numa notícia do jornal desportivo Record, de 22/08/2025*, a propósito da transferência de Jeremiah Israël St. Juste para o Clube Atlético Osasuna, sediado em Pamplona.
Mas o turbilhão referido no recorte (ao lado) parece perturbar igualmente quem redigiu o texto, ao deixar passar um erro hiperbólico. Com efeito, a sequência «que se reergue-se», cuja forma correta é «que se reerguesse», revela a mais completa confusão entre o pronome se e a terminação verbal sse do imperfeito do conjuntivo. Digamos que se juntam dois equívocos num só erro:
a) o de separar indevidamente a terminação sse da forma verbal, que corretamente se escreve reerguesse, 3.ª pessoa do singular do imperfeito do conjuntivo do verbo reerguer;
b) e o de, hifenizando-a, transformar-se tal terminação na forma pronominal se, com o resultado desastroso de o pronome se se associar duas vezes ao verbo («que se reergue-se»), o que é estruturalmente impossível.
Embora os erros se repitam (não tenhamos ilusões), há, no entanto, dicas para afastar do pensamento os hífenes escusados. Basta lembrar que o pronome se é móvel e que, em frases negativas, se desloca da posição pós-verbal (ênclise) para aparecer antes do verbo (próclise).
Assim, a uma pessoa que pronuncie a declaração «a transferência reergue-se», alguém pode contrapor um desmentido e produzir o enunciado «a transferência não se reergue». Nada disto acontece com a terminação sse do imperfeito do conjuntivo, sempre presa ao verbo, já que dele faz parte: «oxalá ele reerguesse a transferência», «oxalá ele não reerguesse a transferência».
Importa ainda sublinhar que temos aqui um caso de conjugação pronominal, visto que o verbo é o reflexo reerguer-se. Porque se trata do imperfeito do conjuntivo e porque este tempo figura sobretudo em orações subordinadas, é inimaginável que alguma vez o pronome se ocorra depois do verbo, ou por outra, seja enclítico, já que a subordinação determina a próclise pronominal – ou seja, é absurda a forma «que reerguesse-se». O uso certo é, portanto, «que se reerguesse», com o pronome se a preceder o verbo e a forma verbal reerguesse grafada na sua inteireza, como uma única palavra gráfica.
* Os meus agradecimentos a Paulo J. S. Barata, que me enviou o recorte que motiva e ilustra este comentário.