O infinitivo pessoal do português
Uma particularidade do português
Na página de Instagram @hora_de_espanhol foi recentemente partilhado um vídeo que destaca uma das singularidades mais interessantes do português europeu, o infinitivo pessoal, também chamado infinitivo flexionado. Com humor, o autor desta página alerta os falantes nativos de português para que sempre que tentam falar espanhol não usarem construções típicas da sua língua, como «para falarmos», «para podermos sair», «antes de irmos» ou «sem sabermos». A razão é simples, ao contrário do português (e do galego), as restantes línguas românicas, como o espanhol, não admitem a flexão do infinitivo. Daí que muitos portugueses, ao aprenderem espanhol ou outra língua românica, incorram no erro de supor que também nessas línguas o infinitivo se conjuga conforme o sujeito.
O infinitivo pessoal é uma das características estruturais que distinguem o português das outras línguas românicas. Esta forma verbal admite flexão de acordo com o sujeito da oração, sendo frequentemente apontado como uma marca de riqueza e flexibilidade do português e serve para evitar repetições de sujeitos e, ao mesmo tempo, manter a precisão. Ocorre comummente após preposições, para marcar o sujeito da ação ou ainda em construções subordinadas, como se observa nos exemplos que se seguem: «Antes de sairmos»; «É melhor eles chegarem cedo» ou «Sem sabermos, nada se resolve».
O infinitivo pessoal, ao lado de outras particularidades do português, constitui um traço distintivo que contribui para a identidade da língua e para a sua complexidade sintática. A possibilidade de flexionar o infinitivo confere ao português uma versatilidade rara entre as línguas românicas, permitindo conciliar concisão e clareza na expressão.
É precisamente essa singularidade que, como bem observa o autor da página @hora_de_espanhol, pode gerar dificuldades quando os falantes de português se aventuram noutras línguas tipologicamente semelhantes, como o espanhol, onde tal recurso não existe. A consciência desta diferença é, por isso, fundamental para evitar interferências linguísticas e para compreender melhor tanto o funcionamento interno do português como o contraste com outras línguas românicas.
Em síntese, o infinitivo pessoal não é apenas uma curiosidade gramatical, é um elemento que ilustra a riqueza estrutural do português e que merece ser valorizado no ensino da língua, tanto para falantes nativos como para aprendentes estrangeiros.
