Um recente título jornalístico traz-me a um tema já abordado por mim diversas vezes¹. No caso:«Viva as pandemias!» ou «Vivam as pandemias!»?
A bem dizer, em relação a pandemias, o que deveria dizer-se, sempre, era «Morram as pandemias!», e nunca «Vivam»…
Estou, intencionalmente, a substituir o verbo viver por morrer e a utilizá-lo adequadamente na terceira pessoa do plural, a concordar com o sujeito da oração («as pandemias»).
Expliquemos, então, que o verbo viver surge no presente do conjuntivo seguido de um substantivo em fórmulas por meio das quais se deseja boa sorte a alguém ou se aplaude. Nestes casos, esse substantivo é o sujeito. Ora, a forma verbal tem de concordar com o sujeito. Exemplos: «Vivam os noivos!», «Vivam os atletas!», «Vivamos nós!». Por vezes, a expressão é introduzida por que: «Que vivas feliz!».
Este conjuntivo deu origem à interjeição exclamativa Viva!, só uma palavra, um conjuntivo sem sujeito e fixo no singular. Trata-se de uma interjeição, classe de palavras por meio das quais se exprime de modo vivo e instantâneo uma emoção. Neste caso, muitas vezes até se perde o significado original no verbo viver, pois a interjeição passa a exprimir a emoção da alegria, do aplauso, da aclamação.
Nota suplementar: na Nova Gramática do Português Contemporâneo, de Celso Cunha e Lindley Cintra, na pág. 587, são enumeradas algumas interjeições e o seu valor (entre as quais, «Viva!») mas, naturalmente, não é dito que «a concordância se tornou facultativa»², pois as interjeições não têm sujeito: são formas fixas.
Em suma,
a) a interjeição Viva! é uma forma fixa que exprime aplauso;
b) nas expressões em que se utiliza o verbo viver no conjuntivo seguido de sujeito, a forma¹ verbal tem de concordar com esse sujeito: «Viva a minha escola!», «Vivam os alunos!»
² Nunca um gramático diria que a concordância entre a forma verbal de um predicado e um sujeito é facultativa…