Artigo de Maria Regina Rocha, no Diário do Alentejo de 19 de Junho de 2009, esclarecendo uma recorrente hesitação (e erro sistemático) no emprego do singular ou do plural. Ou seja, quando se trata do verbo viver ou da interjeição de saudação «Viva!». Uma situação similar à do emprego da conjunção disjuntiva seja.
«Vivam os noivos!» É esta uma exclamação obrigatória na generalidade dos casamentos, tornados acontecimento noticioso neste mês de Junho, em que se comemora o dia de Santo António, o santo casamenteiro.
Mas... deverá dizer-se «Vivam os noivos!» ou «Viva os noivos!»?
Esta pergunta tem razão de ser: há quem não saiba, há quem hesite...
«Vivam os noivos!» é a frase correcta, tal como «Vivam os poetas!» ou «Vivam as crianças!». A terceira pessoa do presente do conjuntivo do verbo viver — viva, no singular e vivam, no plural — é utilizada, seguida de um substantivo, em fórmulas que expressam o desejo de boa sorte ou o aplauso e a homenagem a algo ou a alguém. Se o substantivo em causa estiver no singular, o verbo é utilizado na terceira pessoa do singular («Viva Portugal!»); se o substantivo estiver no plural, a forma verbal passa para a terceira pessoa do plural («Vivam os portugueses!»). Isto é, o verbo concorda com o substantivo, pois este é o seu sujeito.
No singular e sem sujeito, a forma verbal utiliza-se como uma interjeição de saudação, de aclamação ou de entusiasmo, tendo-se perdido o seu sentido original de verbo, como, por exemplo, nas frases «Olá, viva!» ou «Quando o orador fazia uma pausa, havia sempre alguém que gritava: — Viva!, Viva!», ou, apenas, «Viva!», exclamação entusiástica com sentido semelhante a «Bravo!».
A palavra é também usada como substantivo: «Deram vivas aos oradores»; «Os vivas ecoaram por toda a sala».
Uma situação em que se verifica uma hesitação semelhante é a do emprego da conjunção disjuntiva seja, que normalmente exprime uma alternativa inclusiva (ou seja, em que as duas hipóteses não se excluem): «Seja por este motivo, seja por aquele, ela nunca cumpre prazos». A conjunção seja... seja... é formada a partir da terceira pessoa do singular do presente do conjuntivo do verbo ser (seja) e seguida de uma preposição ou locução, como, por exemplo, de («seja de Verão, seja de Inverno»), por («seja por mar, seja por terra»), com («seja com alegria, seja com tristeza»), através de («seja através das palavras, seja através das acções»).
Ora, por vezes, constroem-se frases em que a disjunção incide directamente em seres, objectos, acções ou situações, sem preposição ou locução, o que faz com que a forma verbal seja concorde com os termos que estão em correlação. Exemplos: «Sejam professores, sejam alunos, todos estão contentes»; «sejamos ricos, sejamos pobres, todos contribuímos para o bem do país»; «não te preocupes, sejas tu, seja eu, um de nós ganhará o prémio». Como se pode verificar, o verbo ser é utilizado na terceira pessoa do plural se o substantivo estiver no plural («professores», «alunos») e vai para uma das outras pessoas (do singular ou do plural) consoante as pessoas dos pronomes que estiverem em disjunção, implícita ou explicitamente (primeira pessoa do plural — «sejamos nós ricos, sejamos nós pobres»; segunda pessoa do singular — «sejas tu»; primeira pessoa do singular — «seja eu»).
Para terminar, seja porque a leitura é prazer, seja porque permite adquirir conhecimento, viva quem escreve e viva quem lê. Sobretudo, vivam os leitores!
in Diário do Alentejo de 19 de Junho de 2009, na coluna "A vez…ao Português"