A utilização da língua portuguesa na RTP é a prova acabada do talentaço reinante nos programas da estação pública nacional. A desmedida é tal, que o idioma de Cesário Verde, para não estar sempre a citar o trinca-fortes do Camões, não chega.
Got Talent Portugal é um dos seus mais jubilosos programas, acabadinho de ser anunciado, por acaso no insuficiente idioma do meu vendedor de pêra-rocha.
Os/as brands não soam bem na nossa língua, excepto uma certa marca de atum, de nome algo operático, ou dos tintos do Douro e do Alentejo. O resto, não. Daí o nome do novo programa que vai fazer mais pela educação musical no país do que a Suite Alentejana de Luís de Freitas Branco.
Got Talent Portugal tem o ritmado balancear do seu original americano e da réplica britânica. É conciso como um «arre, porra!», que é rude, arranhado, ferido de cacofonia. O Got é como as favas contadas. Tem a vantagem Godiva, um activo que anda por aqui, uma desnuda lady a seduzir o povo.
Nos quatrocentos anos da morte de William Shakespeare, o que se espera da televisão portuguesa, RTP incluída, é que comece a ser bilingue. Esqueçamos Cervantes, demasiado quixotesco e mouro.
O GTP vai ser um êxito. Sinatra cantava I’ve got you under my skin. Para coroar a voice vencedora, entre as outras voices que desfilarão pelas luzes do palco, a RTP já meteu ao bolso cerca de sete mil concorrentes. Amazing!
Felizes as televisões que têm a testa suada e nos aconselham.
Mantém-se a ortografia anterior ao novo acordo, a qual é usada em Moçambique e pelo autor, cidadão deste país.