Quarenta e sete anos depois do 25 de Abril já se pode criticar a DGS. Estão finalmente cumpridos os três D do programa do MFA. Não confundir a sigla com o D solitário que designa um desembarque antigo na Normandia, quando ainda não havia SNS em Portugal.
Para os deslembrados, o Dia D foi uma coisa que aconteceu no canal da Mancha com o nome de código Operação Overlord e que se desenrolou em desarticulação com o COPCON, outra sigla pós 25 de Abril de 74.
Até esse dia vigorou a RN ou RM, revolução nacional ou revolução de Maio, do vinte e oito de 1926 quando o marechal Gomes da Costa montou no seu cavalo, não sei se da cor do seu colega Bonaparte, e desceu até Lisboa. Ficou na memória, desse século do povo que foi o Vigésimo, o rol de impropérios em léxico de caserna que o depois marechal disparou num aclamado comício em Coimbra.
Já a FB, a formiga branca dos “desvarios” da 1.ª República, se iria metamorfosear em cousa mais eficaz e perene. Já um Agostinho Lourenço se municiava de decisões, silêncios e relações para assumir a liderança da PVDE. Moçoilo dado à boa disposição, o povo chamou-lhe a PEVIDE. Mal sabia ele, coitado – diria, se existisse o bom do António Nobre – , da dureza da semente. Talvez o AOS o tivesse visto estando na condição de modestíssimo viticultor no seu redil de Santa Comba. Talvez estivesse segurando o instrumento, ponderando sobre o seu uso, a sua telesis, qual Eduardo Mãos de Tesoura. Ou assim…
Por rigor histórico, vale dizer que a LP, a UN, a PVDE, a ANP e a PIDE-DGS tratavam da saúde dos portugueses, devotada e eficazmente, não havendo necessidade de outros organismos. Aliás, para as situações mais complicadas, do foro existencial, providenciara-se uma linha da frente com centralidades diversas: campos de azinheiras para aparições descidas do céu, um sol dançarino e cúmplice, relatos pasmados nos jornais, e casas fortes como Peniche e Caxias. E porque império havia, um Tarrafal desenhado ao estilo de Dachau e com apoio técnico da Gestapo, numa bela prainha da Ilha de Santiago de Cabo Verde.
Curiosamente, a sigla DGS, agora Direcção-Geral da Saúde, guarda uma espécie de múnus, se assim me posso exprimir, que a cinza do tempo não remeteu para o oblívio: a arte de tratar da nossa saúde.
Já a sigla PIDE curvou-se ao peso do seu infortúnio embora goze ainda de alguma fama, no mais amplo campo semântico, confinada à némesis de uma determinada faixa etária da sociedade portuguesa, cuja recorda com socidade a «dita dura» e o «cá faz cismo» de Mário Cesariny.
Talvez porque o saudosismo existe e o fado também. Ou porque, como no célebre título radionovelesco de antanho, seja simplesmente uma sigla.
Mudaram-se os tempos e a maioria das vontades, “tantíssimamente”, que um vice-almirante se recusou a regressar ao pavilhão das vacinas para a 5.ª época da pandemia. Cumpriu-se a vontade de Dom Sebastião. E o povo, «que é lindo» não tem sempre razão.
Haverá manhãs e nevoeiros. Haverá DGS, “sozinhinha” como convém. E redimida. Não havia era necessidade de tanto esquecimento.
N. E. – O autor não segue a ortografia em vigor e escreve conforme o Acordo Ortográfico de 1945.