Embora me preocupem essencialmente questões técnicas associadas ao Acordo Ortográfico de 1990, que na minha avaliação o impossibilitam enquanto instrumento ortográfico de um sistema alfabético de escrita, devo sublinhar aqui questões de índole essencialmente moral. Cito do Ciberdúvidas:
«anuncia-se o lançamento, pela Porto Editora, de um vocabulário que aplica o Acordo Ortográfico de 1990 (AO 90) ao português europeu. [...] Paralelamente, existem mais duas iniciativas, também com a finalidade de elaborar em Portugal um vocabulário conforme ao AO 90: uma, da Academia das Ciências de Lisboa; e outra, sob a responsabilidade do Instituto de Linguística Teórica e Computacional (ILTEC). Resta saber qual vai ser a obra a reunir critério, rigor e legitimidade como novo guia ortográfico oficial para a variedade portuguesa da língua comum.»
As questões morais são as seguintes:
— alguém nas livrarias portuguesas avisa os leitores de que o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa da Academia Brasileira de Letras não se aplica à realidade do português europeu, como sublinhou Margarita Correia no [programa de rádio] Páginas de Português?
— alguém diz às pessoas que o vocabulário da Porto Editora não é o vocabulário definitivo?
— por que motivo se permite a putativa existência de três vocabulários para o português europeu?
— quem se responsabiliza por esta pletora vocabular, que potencia a confusão e conduz ao desperdício de dinheiro por parte dos incautos e dos inadvertidos?
— Quis?