As palavras homófonas, i.e., palavras que têm a mesma pronúncia mas se escrevem de modo diferente e têm significados distintos, como conselho (opinião, recomendação) e concelho (divisão administrativa, município), ou aço (metal) e asso (verbo assar), muitas vezes causam confusão. Por exemplo, podemos escrever conselho quando se queria escrever concelho.
Contudo, o que nos traz aqui não é um desses casos. No Notícias ao Minuto (conteúdo com data de 28/06/2024), numa entrevista com Mariana Jones, que aborda as intimidações e ameaças que, por causa dos seus livros infantis, a escritora tem sofrido de um grupo de extrema-direita, Habeas Corpus, que a acusa de promover a homossexualidade e a pedofilia, lê-se: «E depois do lançamento do livro O Pedro gosta do Afonso lançou Todos temos um-bigo, distinguido com mensão especial, na edição deste ano do Prémio Ibérico Álvaro Magalhães...». "Mensão"?
Ora, "mensão" não é uma palavra atestada; o correto é menção: «ato ou efeito de mencionar, citar, nomear, assinalar; alusão, referência (a alguém ou algo); citação; registro, nota; atitude, gesto, meneio que indica a disposição, a intenção de realizar algo» (Dicionário Houaiss). Não há sequer, na etimologia deste substantivo feminino, nada que possa induzir a este erro. De acordo com o Dicionário Houaiss, tem origem no latim mentio, mentionis, que significa «ação de mencionar, menção, comemoração; proposta», e evoluiu através das formas históricas mençom (1365), meçõ e menço (séc. XIV), meençam, menção e mencam (séc. XV).
Portanto, a confusão entre palavras homófonas como conselho e concelho é recorrente e, de alguma forma, compreensível, mas erros como "mensão" em vez de menção não têm justificação etimológica nem histórica e, por isso, muito menos compreensíveis.