Parece que até a língua portuguesa está a ficar tão confusa com a burocracia, que os há e os à decidiram trocar de papéis – pelo menos num canal de televisão. Há imigrantes à espera de documentos há dois anos? Talvez estejam à espera que os verbos e as preposições também se alinhem corretamente. Façamos nós, então, esse trabalho: «Há imigrantes à espera de documentos há dois anos». Não são, portanto, necessários tantos verbos haver.
No primeiro caso, tudo certo, o verbo haver tem sentido de «existir»; no último caso, «há dois anos», trata-se de uma expressão de tempo que indica que no momento em que a frase está a ser proferida se completaram dois anos desde que os documentos foram entregues, e por isso, dita a regra, usa-se o verbo haver, também. Já a ocorrência do segundo verbo haver, como antecipado, está errada. Trata-se de uma locução prepositiva – «à espera de» – usada com o sentido de «a aguardar, na esperança de» (Dicionário da Língua Portuguesa, Academia das Ciências de Lisboa).
O uso correto da língua e a burocracia portuguesa já terão visto melhores dias. Ainda assim, enquanto os imigrantes esperam dois anos pelos seus documentos, nós esperamos que, pelo menos, a gramática se mantenha em dia.