Agosto é sinónimo de verão em Portugal, um mês de sol, férias e, por vezes, certo relaxamento que parece contagiar tudo à nossa volta – inclusive a escrita nos jornais. Foi o que aconteceu recentemente na revista Vidas do dia 24 de agosto de 2024, do Correio da Manhã, onde, no meio de uma breve notícia sobre casamentos e reviravoltas amorosas, que tem como protagonistas figuras da política portuguesa, a ortografia, aliada à conjugação de um verbo, decidiu também tirar uns dias de descanso. Em vez de «à segunda [vez]», lia-se «há segunda [vez]», confundindo o leitor num jogo de palavras digno das armadilhas do calor. Parece que a emoção tomou conta de tudo e, no meio do romance, o erro decidiu dar o ar da sua graça.
Como aqui tanto temos relembrado, há, do verbo haver, é usado para indicar o tempo decorrido ou a existência de algo: «separaram-se há dois anos», «há divórcios». Já à, com acento grave, é a contração da preposição a com o artigo definido a. Então, o que deveria ser «à segunda [vez]» virou «há segunda [vez]», como se o tempo estivesse a espreitar, pronto para apressar o mais apaixonado dos colunáveis.
A língua portuguesa, com os seus detalhes engenhosos, continua a provar que não é só o amor que merece uma segunda oportunidade. De facto, em Portugal, mesmo com a canícula a convidar ao descanso, é essencial que a precisão se mantenha. Pode ser que à segunda vez este erro já não seja tão previsível.