A vitória do Sporting Clube de Portugal, no campeonato de futebol da primeira liga, deveu-se, em grande medida, ao trabalho do treinador da equipa, Rúben Amorim, e muitos foram os adeptos vocais em relação a isso, como é o caso deste, que, como se vê na imagem, afirmou que «tu [Rúben Amorim] não és grande, és big».
É curiosa a escolha do inglês big, a funcionar como superlativo, como que afirmar «tu não és grande, és o maior» (superlativo relativo) ou «és muito grande» (superlativo absoluto). Como é possível interpretar o uso do anglicismo em lugar de uma estrutura que já sai da área lexical para se manifestar na própria construção gramatical em português?
De facto, ser-se «o maior» é o mesmo que ser-se o mais importante ou o mais popular, estado que parece andar associado à história de big, vocábulo de origem obscura (talvez escandinava) e atestado desde 1400 (Online Etymology Dictionary), com o significado de «muito grande, muito forte», ou seja, o sentido da mensagem que o adepto pretende passar. Acresce que não é inédito um empréstimo estrangeiro aparecer em lugar de outras palavras vernáculas: na verdade, há outros casos de anglicismos com valor superlativo, como quando se fala do «meu best», que significa «o meu melhor amigo».
Desengane-se, ainda, quem acredita que a interferência da língua inglesa se limita o vocabulário. Também na sintaxe e certas estruturas está presente. Por exemplo, já aqui foi referido que «definido como», como em «setenta por cento dos pacientes foram definidos como apresentando um baixo grau de sangramento», é uma estrutura reproduzida do «to be defined as showing (something)».
É também interessante registar o uso de mister no comentário. A palavra deveria aparecer como vocativo e, portanto, a frase, bem pontuada, seria «tu não és grande, tu és big, Mister!». Mister é também um termo inglês, embora se ligue à herança latino-românica deste idioma, pois tem origem no francês antigo maistre, «mestre», que por sua vez vem do latim magister (cf. Dicionário Houaiss). Em português, adquiriu o sentido de «treinador», sobretudo usado em saudações e interpelações, formuladas com vocativos, como refere a professora Jovina Benedito, neste artigo de opinião publicado no jornal Expresso (05/09/2008): Mister na língua portuguesa.
O fenómeno da interferência do inglês no discurso diário de tantos, é, pois, crescente, nomeadamente no que às camadas mais jovens concerne. Além disso, o uso de palavras como big em contextos onde há equivalentes em português, como «o maior», é um fenómeno que reflete não apenas as escolhas individuais dos falantes, mas também tendências sociais mais amplas, nomeadamente por ser visto como um sinal de modernidade ou de globalização. Não será isto uma ilusão coletiva?