A CNN Portugal alertou em 8 de abril para a intensificação da espionagem russa, que estaria ativamente recrutando indivíduos conhecidos como peles-limpas em toda a Europa, incluindo Portugal. Mas o que significa exatamente o composto pele-limpa?
Segundo Victor Moreira, especialista em segurança interna e pesquisador no Centre for Information Resilience, denominam-se peles-limpas os estrangeiros sem vínculo aparente com um país – no caso, a Federação Russa – e selecionados para agentes secretos dos serviços de espionagem desse país. São, portanto, indivíduos escolhidos para agir sem levantar suspeitas nas agências de contraespionagem de Estados rivais ou adversários. O termo peles-limpa constitui um neologismo de estrutura transparente, formado pela combinação de um substantivo – pele – e um adjetivo – limpa –, e motivado como tradução literal do inglês cleanskin, «pele limpa».
Em inglês, o termo ganhou proeminência após os atentados de 7 de julho de 2005 em Londres, quando quatro terroristas, classificados pela imprensa como cleanskins, desencadearam uma série de ataques com explosões nos transportes públicos londrinos. No entanto, a origem da expressão remonta a data anterior, embora seja difícil precisar quando exatamente surgiu. Numa página da Internet (Language Log, 13/07/2024) lê-se que cleanskin figura em 1881, num texto relacionado com a Austrália, com o sentido de «cabeça de gado bovino sem marcação»; mas em registos dos anos 40 do século XX, cleanskin já ocorre com o significado alargado de «pessoa íntegra, sem cadastro criminal», aceção que ainda se mantinha de algum modo na década de 90 do mesmo século XX e se estendia a traficantes de drogas sem registo na polícia, de acordo com a revista TIME.
Em suma, o surgimento do neologismo peles-limpas no contexto português documenta bem como uma expressão aparentemente vernácula é, afinal, um anglicismo infiltrado, no fundo, comportando-se metafórica e ironicamente como qualquer agente secreto insuspeito.