«[…] portanto há aqui esta preocupação de Biden, que é uma preocupação também em evitar o número de casualidades civis, porque uma coisa é nós estarmos a discutir aquilo que é legítimo do ponto de vista do Direito internacional, e que se aplica ao direito à defesa de Israel, outra são os impactos concretos em vidas humanas […]».
Helena Ferro Gouveia, CNN Portugal, 2 de novembro de 2023, 19h37.
Os diretos em televisão são letais, porque espelham o momento e quando ocorre um erro não há possibilidade de correção. Na frase acima, casualties é traduzido por casualidades. É um falso cognato, aquilo a que vulgarmente chamamos «falso amigo», ou seja, uma palavra que, na forma, se assemelha a outra noutro idioma, mas tem na realidade um significado diferente. Casualties, em inglês, é um termo muito utilizado em linguagem militar e também jornalística, na cobertura de cenários de guerra ou de catástrofe, e significa vítimas ou baixas, enquanto casualidades, em português, significa acasos, eventualidades ou coincidências.
Se se ouvir a intervenção televisiva, percebe-se que a comentadora tem ali um momento fugaz em que hesita entre referir a palavra em inglês ou optar pela tradução em português, escolhendo a segunda, que lhe sai referencial e errónea. Como é evidente, e fica expresso na citação mais extensa que reproduzimos, há um conhecimento preciso do significado da palavra casualties, mas a tradução em direto revela-se fatal.