Ao contrário de programas gravados, onde é possível editar e rever o conteúdo antes da transmissão, os diretos não são flexíveis e, por esse motivo, quando ocorre um erro, não há possibilidade de correção. Caso disso foi o que se pôde ouvir no canal CNN Portugal, onde, ao debater-se o assunto do dia – o ataque iraniano contra Israel – se ouviu: «Israel está sobre ameaça», «todas as casualidades» e «West Bank». Ou seja, na mesma emissão, três tropeções: uso incorreto de preposições, impropriedade vocabular por interferência do inglês e apropriação escusada da terminologia geopolítica também em inglês.
No primeiro dos vídeos apresentados mais abaixo (vídeo 1), a comentadora começa por referir que «Israel está sobre ameaça», em vez de «Israel está sob ameaça». Acontece que sobre e sob são antónimos: sob vem do latim sub e significa «debaixo de» ou «por baixo de»; sobre tem origem no latim super e significa «em cima de» ou «na parte superior de». Ora, tendo em consideração estes significados, a estrutura «está sobre ameaça» é uma construção que não se ajusta ao pretendido, uma vez que, a ser usada, veicularia a ideia de que Israel está em cima da ameaça. Para associar Israel à ideia de ameaça, a expressão ajustada é «estar sob ameaça», a qual indica que Israel está debaixo de ameaça.
Quanto ao comentador (vídeo 2), ao mencionar «todas as casualidades», parece traduzir direta e incorretamente a expressão casualties. Este anglicismo é um falso amigo, que partilha a mesma etimologia, mas difere em significado de casualidades, pois se casualties é amplamente usada em contextos militares e jornalísticos para descrever vítimas ou baixas, casualidades, em português, remete para acasos, eventualidades ou coincidências. No contexto em apreço, a tradução correta de casualty é vítima ou baixa (cf. Infopédia).
Por outro lado, ainda no segundo vídeo, ao mencionar West Bank, o comentador poderia ter optado por utilizar as designações em português, como Cisjordânia. Essa escolha teria sido mais congruente com a língua utilizada na transmissão, facilitando a compreensão do público e evitando o uso de terminologia estrangeira.
Enfim, três percalços no uso do idioma que a pressão dos programas em direto explica mas não desculpa.
vídeo 1
vídeo 2