O desafio chegou-nos do jornalista português Eduardo Oliveira e Silva, na sua crónica do dia 2/05/2023, no Jornal i, a propósito da crise política em Portugal desencadeada em abril de 2023, a partir do caso da companhia aérea TAP: «Os franceses têm o verbo saborder. Significa afundar o seu próprio navio. Devíamos inscrevê-lo nos nossos dicionários como “sabordar” porque cada povo tem o governo que merece em cada momento. Fica a sugestão para essencial Ciberdúvidas, cocriado pelo jornalista José Mário Costa, com o devido respeito e amizade.»
Ainda que não caiba ao Ciberdúvidas a missão de organizar um dicionário de língua portuguesa nele incluindo as novas palavras que chegam à língua, poderemos afirmar, no âmbito da proposta de Eduardo Oliveira e Silva, que a palavra “sabordar” é possível em língua portuguesa. Constituiria um empréstimo do francês que sofreria um processo de adaptação ao português, por meio da junção ao radical sabord- da vogal temática mais frequente nos verbos portugueses (o -a) e do sufixo de flexão no infinitivo (o -r).
Funcionando como empréstimo, a palavra teria uma significação semelhante que tem em francês: «Afundar voluntariamente um navio para apagar um incêndio ou para impedir que caia nas mãos do inimigo; pôr voluntariamente fim à atividade de uma empresa; agir de forma a destruir um projeto».
Note-se, todavia, que as palavras não entram no dicionário por decreto de um especialista. Será necessário que o seu uso se expanda e seja reconhecido por um grande número de falantes.
Precisamos primeiro de entregar o verbo “sabordar” aos falantes e depois ver como (ou se) eles o integram no seu discurso.
É esta a vida das palavras!