Desencadeado inicialmente nos EUA pelo chamado movimento #MeToo, envolvendo denúncias de âmbito sexual ou moral em meios académicos, artísticos, desportivos ou profissionais, entre outros, também em Portugal o tema marcou a atualidade dos últimos dias. E, com ele, propagaram-se uma série de conceitos, palavras e expressões que permitem descrever linguisticamente esses casos, mas que se distinguem nas suas cambiantes.
É o caso expressão «ativismo feminista», que refere a militância das mulheres em discursos de denúncia, que visam a liberdade feminina e a igualdade em qualquer circunstância. Ou outras mais, como a seguir se enunciam, relacionadas, de forma pejorativa ou não, a situações de âmbito amoroso, sexual e outro tipo de interações sociais:
♦ «Conduta pouco ética». Descreve comportamentos que não se enquadram nas regras de conduta de um determinado contexto.
♦ «Conduta/comportamento inapropriado». Expressão que pode ser sinónima da anterior; poderá descrever um comportamento não tão gravoso, que se considera inadequado face ao contexto em que decorre.
♦ «Abuso institucional/Assédio institucional».Alusivo a formas abusivas de relacionamento institucional ou outro, que se caracterizam por um discurso ou determinadas práticas sistemáticas de alguém em posição de hierarquia superior que, por meio desta ação, ameaça, desautoriza, humilha, desqualifica ou deslegitima alguém em situação de menor poder, o que pode gerar danos morais, físicos ou psíquicos.
♦ «Assédio moral». Surge como um possível tipo de «assédio institucional», que se caracteriza pela violência psicológica ou física de um superior hierárquico ou de um colega, por meio da humilhação, da injúria, das interações agressivas, da apropriação de ideias ou da ameaça de instauração de procedimentos disciplinares entre outros, o que degrada o ambiente de trabalho e põe em risco a ação do visado e a sua saúde física e psíquica.
♦ «Assédio moral vertical». Tipo de assédio que pode ser descendente (de um superior relativamente a um subordinado) ou ascendente (de um subordinado relativamente a um superior hierárquico).
No campo específico das relações amorosas ou sexuais, há também alguns termos a considerar:
♦ «Fazer a corte», Cortejar, Galantear, Paquerar (no Brasil). Termos que, usados numa perspetiva positiva, descrevem ações orientadas no sentido de conquistar alguém do ponto de vista amoroso.
♦ «Aprofundar a relação». À letra, refere o processo de desenvolvimento de uma relação amorosa; de forma figurada, designa os avanços no sentido da obtenção de favores sexuais.
♦ Sedução/Seduzir. Palavras que podem descrever a ação do deslumbrar ou de fascinar, vista de forma positiva; também poderão descrever as manobras de alguém no sentido de vencer a resistência de outrem relativamente a práticas sociais ou amorosas.
♦ «Familiaridade excessiva» (closer familiarity, em inglês). Descreve um estado de relacionamento muito próximo, marcado pela ausência de cerimónias ou pela excessiva intimidade, pelo que pode denotar também uma situação abusiva.
♦ «Caso (amoroso)». Especifica uma relação amorosa que poderá ser mais ou menos fortuita.
♦ «Avanços indesejados». Comportamentos que visam a solicitação / obtenção de algum tipo de favores de cariz sexual e que não são desejados por uma das partes.
♦ «Importunação sexual. Conjunto de atos de natureza exibicionista, que se podem associar à apresentação de propostas de teor sexual ou a formas de constrangimento da vítima no sentido de se ter um contacto sexual.
♦ «Assédio sexual». São todos os comportamentos indesejados que assumam um cariz sexual, que poderão ser manifestados verbal ou fisicamente e que afetam a vítima, criando um ambiente ameaçador, hostil, degradante ou humilhante para o visado.
♦ «Assédio sexual violento». Forma de assédio sexual que se associa a comportamentos verbais ou não verbais violentos, como é o caso do uso da força física, que se destinam a obrigar a vítima à prática de atos de natureza sexual.
♦ «Abuso sexual». Atividade sexual não consentida, na qual o agressor faz uso da força, física ou verbal, impedindo a rejeição por parte da vítima.
♦ «Violação/Relação não consensual». Pode ser usada como equivalente a abuso sexual; descreve uma relação sexual forçada e não consensual.
♦ «Extrativismo sexual». Neologismo recente que refere uma atitude, que pode ser sistemática, em que alguém faz uso de uma situação ou posição para
obter junto de outrem favores de natureza sexual.
Cf. Extractivismo intelectual' + Como é que se diz “Me Too” em português? + Manual de sobrevivência para vítimas de assédio