«Estranho que a Academia das Ciências de Lisboa (ACL), entidade responsável com a Academia Brasileira de Letras pelo Acordo Ortográfico [de 1990], tenha agora uma iniciativa unilateral sem ter em conta esse contexto histórico», comentou José Mário Costa, ouvido nesta notícia difundida pela agência Lusa no dia 27 de janeiro de 2017.
Lisboa, 27 jan. (Lusa) – Um dos fundadores do Ciberdúvidas, projeto dedicado à língua portuguesa, estranhou hoje a «iniciativa unilateral» da Academia das Ciências de Lisboa sobre o Acordo Ortográfico de 1990, documento do qual é responsável com a Academia Brasileira de Letras.
«Estranho que a Academia das Ciências de Lisboa (ACL), entidade responsável com a Academia Brasileira de Letras pelo Acordo Ortográfico [de 1990], tenha agora uma iniciativa unilateral sem ter em conta esse contexto histórico», afirmou hoje José Mário Costa, do Ciberdúvidas, em declarações à agência Lusa*.
O documento de aperfeiçoamento do Acordo Ortográfico de 1990 (AO 90), aprovado na quinta-feira [26/01/2017] pela ACL, sugere o regresso de consoantes mudas, do acento gráfico em alguns vocábulos, do circunflexo noutros, assim como do hífen.
José Mário Costa estranha também «o facto de existir uma entidade, multilateral no âmbito da CPLP [Comunidade dos Países de Língua Portuguesa], que é o Instituto Internacional da Língua Portuguesa, onde a própria ACL está representada, e onde se tem discutido e avaliado o que há de alterar, melhorar, corrigir no texto inicial do AO 90, e seja feito dessa maneira»**.
Para o fundador do Ciberdúvidas, a iniciativa da ACL é estranha, «a não ser que atual liderança da Academia ponha em causa tudo o que [foram] os últimos anos de histórico de relacionamento das duas academias».
José Mário Costa recordou que a Academia Brasileira de Letras «também já tinha feito sugestões, acertos, correções, incoerências, sobre uma série de propostas, que foram colocadas nas devidas comissões», algo que, «no âmbito do Instituto Nacional da Língua Portuguesa está a ser resolvido».
Segundo o documento «Sugestões para o aperfeiçoamento do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa» de 1990, deve regressar o acento agudo em palavras com pronúncia e grafia iguais, as denominadas palavras homógrafas, referindo, entre outras, "pára”, forma do verbo parar, que se confunde com a preposição para, também “péla”, nome e forma do verbo pelar, que se confunde com a preposição pela, e ainda “pélo”, nome e forma do verbo pelar, que se confunde com a preposição pelo.
Quanto às propostas, José Mário Costa recordou que «há muita gente que vem acrescentando propostas, que depois são levadas na devida conta no âmbito próprio [do IILP] e não de uma maneira unilateral».
«Isso é que me surpreende», sublinhou.
* Sobre esta cooperação ativa entre as duas academias, a portuguesa e a brasileira, conducentes à concretização do Acordo Ortográfico de 1980, leia-se o texto "O papel da Academia das Ciências de Lisboa no estabelecimento de uma ortografia simplificada para lusofonia (perspetiva histórica e realidade atual)", da autoria do professor universitário Rolf Kemmler – correspondente à palestra proferida por ocasião da sua tomada de posse como Sócio Correspondente Estrangeiro da ACL, na sessão da Classe de Letras do dia 12 de janeiro de 2017.
** As competências na gestão da língua oficial dos oitos países integrantes na CPLP, numa perspetiva multiral, descrevem-se aqui.E os seus diversos projetos e trabalhos, concretizados ou ainda em curso – desde o Vocabulário Ortográfico Comum da Língua Portuguesa aos vários vocabulários nacionais –, assentam precisamente nas novas regras da reforma ortográfica de 1990 (e, para tal, com critérios comuns na sua aplicação, conforme decisão no ponto 4 do comunicado final da XI Reunião do Conselho Científico do IILP, realizada na cidade da Praia, em maio de 2016).
Cf. Parlamento rejeita desvinculação de Portugal do Acordo Ortográfico
Notícia da agência Lusa, de 27/01/2017.