Dados comummente como palavras sinónimas – cf. O bom e o mau uso do léxico político no jornalismo + A palavra inverdade –, vale a pena lembrar que, na linguagem jurídica, inverdade não é a mesma coisa que mentira. Uma mentira é sempre uma inverdade, mas uma inverdade pode ser ou não uma mentira. E, nesta perspetiva, inverdade é o verdadeiro antónimo de verdade, e não “mentira”. Nos tribunais, por vezes usa-se o termo inverdade como eufemismo de cortesia para com a contraparte ou seu advogado constituído; mas usa-se principalmente como termo de rigor para se significar que não se sabe se o autor duma declaração não verdadeira teve ou não a intenção ou consciência de faltar à verdade.
Com algum paralelismo, é o mesmo que acontece com das palavras erro e desacerto, que também não são sinónimos, embora possam parecer, pelo menos à primeira vista. O erro é um desacerto cometido sem a consciência de ser um desacerto. Se alguém comete um desacerto com a consciência de que comete um desacerto, não está a errar, está a desacertar. Logo, um erro é sempre um desacerto, mas um desacerto pode ser ou não um erro.
Para um jurista, o erro factual pode ser erro na declaração (divergência entre a vontade real do autor e a declaração negocial), erro de cálculo ou de escrita, erro na transmissão da declaração negocial, erro sobre a pessoa do declaratário do negócio, erro sobre o objeto do negócio, erro-motivo (incidente sobre o motivo ou motivos determinantes do negócio, quando reconhecida consensualmente a essencialidade do motivo), erro sobre as circunstâncias do negócio (quando estas constituam a base do negócio, sobrevindo alteração dessas circunstâncias). O dolo é um tipo especial de erro – é o erro induzido (o declarante foi induzido ou mantido em erro por alguém, que pode ser a contraparte no negócio).
Já em linguagem informática, a palavra erro aparece frequentemente como tradução infiel da palavra inglesa error, que tem, dentro desse contexto terminológico, o significado de «avaria» ou «disfunção» (o correspondente inglês da palavra portuguesa erro é mistake). O erro, em português, é sempre humano, nunca de uma máquina. Por isso, quando na pantalha dum computador aparece a palavra error, a tradução correta para português é «avaria» ou «disfunção» – e não erro, como é comum ler-se.
A linguagem do Direito é uma linguagem de rigor, pelo menos tendencialmente. Quando, há mais de 12 anos, consultei o amigo e colega José Carlos de Vasconcelos, jurista meu contemporâneo de Coimbra que encarreirou pelo jornalismo (onde atingiu os píncaros), sobre se, no caso concreto dum descendente meu virado para a sua formação como jornalista, seria preferível atalhar por uma licenciatura em Jornalismo ou seguir uma diversa, ele opinou, de pronto, que o ideal seria obter a licenciatura em Matemáticas ou em Direito e depois fazer uma pós-graduação em Jornalismo, porque assim aprendia, antes de mais, uma ciência de rigor, em vez de se aplicar na priorização de ciências não exatas, como Sociologia, Politologia, Etnologia e Antropologia, que fazem geralmente parte do currículo da licenciatura do Jornalismo.