A Vodafone procurou corresponder a uma ideia da Sr.ª D. Maria José Mauperrin, do Ciberdúvidas e da Sociedade da Língua Portuguesa [patrocinando o Prémio Crónica João Carreira Bom].
Fizemo-lo, por um lado, porque assumimos a nossa responsabilidade social de uma forma natural. Nós consideramos que as obrigações de uma empresa, interveniente numa sociedade como a portuguesa, não se esgotam com o pagamento de impostos. Até somos das empresas que pagam mais impostos, estaremos no terceiro, quarto lugar, das empresas que pagam mais impostos, não considerando as empresas financeiras.
Mas pensamos que, ao viver nesta sociedade, ao estarmos localizados nesta sociedade, ao sermos, nós próprios, uma comunidade de portugueses a trabalhar nesta empresa, é nossa obrigação e interesse apoiar iniciativas várias da sociedade civil. E essas iniciativas abrangem múltiplas áreas. Áreas mais sociais, mas também áreas culturais.
Por isso, esta é uma primeira razão para correspondermos à solicitação que nos foi feita.
Mas há uma segunda razão, que é o facto de esta solicitação ter que ver com a língua portuguesa e com o jornalismo de qualidade.
Achamos que é muito importante preservar, naturalmente, a língua portuguesa e o jornalismo de qualidade, como espaço de expressão e de liberdade. Consideramos que é muito importante para a identidade nacional. Eu próprio sou um grande defensor da abertura dos mercados, mas não acho isso de todo contraditório com o facto de se defender uma identidade nacional.
Penso que todos nós, todos os portugueses, precisamos dessa referência que é a Pátria, que é a Nação, tal como precisamos de outras. Como precisamos da referência da família, como, eventualmente, alguns precisarão de uma referência de um clube de futebol. Todos nós precisamos dessas referências para uma melhor emocionalidade, para um melhor equilíbrio pessoal. Portanto, essa é uma primeira razão, porque acredito que faz sentido a identidade nacional, mesmo acreditando em mercados abertos a nível económico.
Depois, acredito que faz sentido por interesse, até próprio. Vivemos neste espaço físico que é Portugal. Portanto, temos interesse em melhorar a qualidade de vida em Portugal, para nós próprios e para os nossos filhos. E, de facto, as nações, quer queiramos quer não, também estão em competição. Por isso, devemos também preservar a identidade nacional como uma questão de interesse próprio, e de querermos melhorar a qualidade de vida neste espaço físico que é o nosso, e que, naturalmente, entra em confronto com outros espaços físicos.
Mas há uma terceira razão para apoiarmos este prémio. Porque ele se chama Prémio Crónica João Carreira Bom.
O Sr. Professor Urbano Tavares Rodrigues teve a amabilidade de me considerar ainda jovem. A verdade é que fui o primeiro colaborador desta empresa; fui eu, até, quem coordenou, na altura, a candidatura do projeto de comunicações móveis que foi apresentado ao Governo. Ganhámos esse concurso e, realmente, fundámos a empresa em 1992, tendo sido eu, portanto, o seu primeiro colaborador.
Nessa altura, desde logo procurámos uma agência de comunicação, um consultor de comunicação, porque era essencial, não só num projeto deste tipo na fase de arranque, mas, obviamente, na sua continuidade. Ter uma boa empresa e um bom consultor de comunicação, para nos ajudar, nos apoiar na nossa relação com a comunicação social. Tivemos várias referências e foi-nos apresentado o João Carreira Bom e, desde logo, comecei a trabalhar com ele. Portanto, logo desde 1992, quando lançámos este projeto, que então se chamava Telecel.
Foi algo de extremamente interessante toda essa vivência que eu e a empresa tivemos com o João Carreira Bom, com benefícios mútuos. Claro que as perspetivas muitas vezes eram diferentes. Eu, de um lado, provavelmente mais pragmático, ou pretensamente mais objetivo, como profissional de gestão; do lado dele, uma pessoa com extrema educação, com uma grande experiência da vida, com uma grande experiência do meio da comunicação social, que procurava ser, muitas vezes, mais ponderado na nossa pressa de, eventualmente, chegar a determinados objetivos.
Foi portanto esta a terceira razão para apoiarmos este prémio com muito gosto: exatamente por ter a designação João Carreira Bom – uma pessoa que nos mereceu e merece uma grande consideração, e a quem a Telecel, hoje Vodafone, também muito deve pela contribuição que deu para este projeto – que, se assim o quisermos designar, tem sido um projeto com algum sucesso. Porque criou alguma riqueza para o nosso país, e por ter procurado ser inovador nas mudanças com que a nossa sociedade se vai defrontando.
É pois uma grande honra entregarmos este primeiro prémio ao professor Eduardo Prado Coelho. Tendo já sido tudo dito antes de mim [na cerimónia] sobre o galardoado, mais uma vez registo aqui o nosso grande agrado e satisfação por uma pessoa da qualidade do professor Eduardo Prado Coelho ter ganho o primeiro Prémio Crónica João Carreira Bom.
alocução na cerimónia de atribuição do primeiro Prémio Crónica João Carreira Bom, dia 2 de fevereiro, ao professor universitário e ensaísta Eduardo Prado Coelho.