O ensino estruturado tem impacto positivo no desempenho dos alunos. A investigação levada a cabo pela Fundação Lemann (Brasil) fornece dados empíricos que o confirmam. Este é mais um estudo comprovativo de que as virtudes da exposição abundante e não dirigida a input linguístico, num regime não intencional/não dirigido, só por si, não são suficientes na aquisição de competências.
Chegam-nos pelas telenovelas brasileiras e vale a pena revisitá-las: as variações regionais da língua portuguesa no Brasil, em gama colorida na pronúncia e no léxico. No Rio Grande do Sul, patente é vaso sanitário (isto é, sanita), e em Florianópolis (Ilha de Santa Catarina), helicóptero é avião de rosca.
Não é apenas para diversão que reproduzimos aqui o vídeo de Kledir Ramil, mas para alertar para o alheamento dominante de professores de português portugueses (e, enfim, da população portuguesa em geral) em relação à variedade (e variedades) do português do Brasil — alheamento que leva ao ponto de não se reconhecer o brasileiro residente em Portugal como um falante nativo do português, conforme prova o aviso que a Direcção-Geral de Inovação e de Desenvolvimento Curricular (DGIDC) se viu na necessidade de publicar no seu sítio:
«Os alunos brasileiros, tendo o português como língua materna, não devem ser inseridos no PLNM [Português Língua não Materna] nem realizar este exame nacional.»
«As democracias criaram sociedades em que os cidadãos já conquistaram um certo direito a falar livremente, mas ainda se está longe de alcançar o equivalente direito de ser ouvido» (António Victorino d'Almeida, Músicas da Minha Vida, Dom Quixote).
O mesmo se passa com a democratização da palavra nos blogues e nas redes sociais. Toda a pessoa é aqui um "ser escrevente", mas sem garantias de vir a ser lido. E há um dissuasor forte à leitura, que é o erro ortográfico: «Os erros são em palavras simples, que utilizamos no dia-a-dia, que lemos em panfletos, outdoors, em manchetes de jornais ou sites, em supermercados. Enfim, palavras de uso cotidiano, que não dependem do hábito da leitura para serem assimiladas.» É esta a realidade retratada por Lilian Gonçalves no sítio brasileiro Portal Literal. A escrita virtual vulgarizada põe às claras o que uma comunidade sabe e que atitude tem face ao rigor e ao conhecimento.
A presença de termos e expressões idiomáticas de origem judaica na língua portuguesa é o tema do artigo de Jane Bichmacher de Glasman, da Universidade do estado do Rio de Janeiro. O artigo é válido não apenas pela listagem de exemplos, mas também pela síntese da história da deriva do povo judaico na Europa e nas terras do Novo Mundo, desde o século XV até ao século XX.
1. Um português a ouvir o relato do jogo deste dia numa rádio brasileira o que ouviria? E um brasileiro a ouvir o mesmo jogo numa estação portuguesa? Que guarda-redes é goleiro, já se sabe, mas o que é um tiro de meta?
E que termos constarão no diário sul-africano Mercury, sediado em Durban e liderado pela luso-descendente Ângela Quintal, que sai neste dia com a primeira página e um suplemento inteiramente redigidos em português?
2. O Acordo Ortográfico está ou não está em vigor? Está – vinculado pelo tratado internacional dos Estados seus subscritores, como o impõem o normativo do direito internacional e as regras de interpretação do direito em geral. É o que sustenta o jurista Fernando Guerra, em artigo escrito especialmente para o Ciberdúvidas.
3. Ainda sobre o Acordo Ortográfico: o mais influente jornal português, o semanário Expresso, passou a ser editado desde 26 de Junho de 2010 segundo as novas regras da escrita oficial portuguesa, subscritas pelos oito países da CPLP. Todas as publicações do grupo Impresa passaram também a adoptar o Acordo Ortográfico. A explicação aqui.
4. A propósito: o Ciberdúvidas – que continua acessível nas duas ortografias oficiais ainda prevalecentes no espaço geográfico da língua portuguesa – aguarda a aplicação da nova reforma nas publicações oficiais do Estado português para seguir apenas as regras do Acordo de 1990.
5. No programa Páginas de Português (Antena 2, dia 27, 17h00*, também disponível em podcast): homenagem a José Saramago, revisitado numa entrevista dada no décimo aniversário da atribuição Prémio Nobel da Literatura. Falar-se-á ainda do projecto concebido e financiado pela Fundação Vodafone para o Ministério da Educação para manuais escolares especificamente destinados a alunos cegos ou com pouca visão. Quanto ao Acordo Ortográfico: que dúvidas sobre as novas regras?
Há um verbo para designar a acção de dizer o que se crê falso: mentir. Mas não há nenhum verbo para referir o acto de acreditar numa mentira ou numa inverdade. Também não há nenhum verbo para designar a acção de acreditar no que se quer acreditar ou de desejar ser enganado. O português é uma língua analítica, cheia de construções perifrásticas, e na captação de um conceito nem sempre está envolvido um único lexema, mas vários.
Outro tema forte da actualização deste dia é a forma dos gentílicos: de Otava, Jacarta, Niassalândia e Riade.
1. «Língua materna» é um termo técnico da área da aquisição da linguagem, mas é também um termo metafórico, que o poeta português Eugénio de Andrade soube explorar num texto de reflexão sobre língua e identidade, que divulgamos neste dia. E é certo: a psicologia dá como atestado o facto de a aquisição de uma proficiência avançada numa segunda língua coincidir com algumas mudanças de personalidade.
2. Acabou de sair o n.º 5 da revista Estudos Linguísticos/Linguistic Studies, do Centro de Linguística da Universidade Nova de Lisboa. O volume reúne comunicações apresentadas na Conferência Internacional sobre Gramática e Texto – GRATO, nas áreas de morfologia, semântica, teoria do texto, análise do discurso e pragmática.
3. O Grupo de Fonologia do Centro de Linguística da Universidade do Porto organiza a III Jornada de Estudos Pós-Graduados em Fonologia. O evento decorre no dia 26 de Junho na Faculdade de Letras da Universidade do Porto.
1. Olhando para o Acordo na perspectiva de Evanildo Bechara, o documento afigura-se, apenas, como um regulador de excessos. É esse o cerne da entrevista ao linguista brasileiro, publicada no jornal Público. E os que continuam a resistir e que afirmam nunca vir a escrever pela bitola do Acordo? «Está certo. Porque uma mudança ortográfica não é para a geração que a faz.»
2. O fenómeno da regência é um dos tópicos prioritários no ensino do português língua segunda. Mas o certo é que o uso da preposição correcta a seguir ao verbo, nome ou adjectivo parece também oferecer dificuldades aos falantes nativos. Pelo menos, a levar em conta os erros que passam na imprensa, como, por exemplo: "participar de uma quadrilha"; "alertando ? que", "na hipótese em que"... Deixamos, neste dia, mais um esclarecimento sobre casos de regência nominal e verbal.
Num filme de Hollywood, imperadores romanos, marcianos ou seres pré-diluvianos... todos falam, naturalmente, em inglês. Ou não fosse o cinema de massas a forma mais eficaz de divulgar uma língua. Há excepções: por exemplo, a do realizador de Avatar, que encomendou uma língua nova a um linguista; ou a de Mel Gibson, no filme A Paixão de Cristo, que pôs as personagens a falar aramaico, latim e hebraico.
Aparentemente, a tendência generaliza-se e, pela primeira vez, uma novela da Globo levou os seus actores à Universidade de São Paulo para aprenderem o léxico e a fonética do italiano. O objectivo é fazer com que os diálogos em que participam personagens oriundas da Toscana, Itália, se desenrolem numa pronúncia academicamente verosímil — mistura de português com italiano.
José Saramago, escritor português e Prémio Nobel da Literatura, morreu aos 87 anos, em Lanzarote, Espanha, onde residia.
Saramago nasceu na aldeia de Azinhaga, na Golegã, em 1922. Em 1939 termina o estudos de Serralharia Mecânica e emprega-se nas oficinas do Hospital Civil de Lisboa. A partir de 1960 desenvolve um intenso trabalho jornalístico, no Diário de Notícias e no Diário de Lisboa, n’A Capital, no Jornal do Fundão, entre outros. Em 1968, torna-se membro do Partido Comunista Português.
Trinta e três anos depois da sua primeira obra (Terra do Pecado), os romances Levantado do Chão (1980), Memorial do Convento (1982) e O Ano da Morte de Ricardo Reis (1984) trazem-lhe a consagração. Ensaio sobre a Cegueira (1995), outra referência na bibliografia do escritor português, foi adaptado para o cinema em 2008 pelo realizador brasileiro Fernando Meirelles.
José Saramago escreveu, para edição exclusiva no Ciberdúvidas, o texto Uma língua que não se defende, morre. Sugerimos, neste dia, a sua (re)leitura. Deixamos também, aqui e aqui, algumas reacções ao seu desaparecimento.
Este é um espaço de esclarecimento, informação, debate e promoção da língua portuguesa, numa perspetiva de afirmação dos valores culturais dos oito países de língua oficial portuguesa, fundado em 1997. Na diversidade de todos, o mesmo mar por onde navegamos e nos reconhecemos.
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