A VIII Cimeira da CPLP, em Angola, termina com mais um punhado de declarações, de que se destaca a que constata que a promoção da língua portuguesa é fundamental para consolidar a projecção da CPLP. Deste modo, já não é apenas a CPLP a promover a língua, mas a língua a promover a CPLP.
No entanto, interessaria, sobretudo, saber que fundos, que acções, que agentes e que estratégias de regulação de resultados vão ser activados nesse plano conjunto de promoção da língua.
O meio editorial e os media de língua portuguesa não têm explorado como deviam o potencial da Internet para divulgar o português — foi esta a constatação que saiu do congresso da Associação Internacional para a Investigação em Média e Comunicação, que está a decorrer na Universidade do Minho, em Braga.
Imodéstia, em parte: o Ciberdúvidas cumpre esse desígnio desde 1997.
Carlos Reis, em declarações à Lusa, fez a constatação: falta «vontade política bem determinada», para a língua portuguesa aumentar, como é devido, a sua presença no mundo. Uma vontade política deve ser, então, um querer desenfreado e não um desejo onírico.
Carlos Reis não usou este exemplo, mas podia ter usado: o Plano de Acção para a Promoção, Difusão e Projecção da Língua Portuguesa, que foi discutido na I Conferência Internacional sobre o Futuro da Língua Portuguesa no Sistema Global, em Brasília, vai ser posto em discussão na VIII Cimeira dos Chefes de Estado e de Governo da CPLP, em Luanda, no 23.
A Vodafone Portugal inicia hoje a disponibilização de um conjunto de 32 clássicos da literatura portuguesa em formato de livro electrónico para serem lidos no telemóvel. Esta iniciativa, lançada em conjunto com a editora portuguesa Atlântico Press e com a plataforma de livros digitais Mobcast, permite o acesso no telemóvel a títulos de grandes autores portugueses, como Alexandre Herculano, Almeida Garrett, Bocage, Camilo Castelo Branco, Eça de Queirós, Fernando Pessoa e Gil Vicente.
Tem sido um dos tópicos de insistência do presidente da República de Portugal: elevar o português como língua oficial da ONU. Neste congresso da CPLP, em Angola, novamente foi lançado o repto.
A pergunta é inevitável: porque é que já não o é?
Porque falta uma acção efectiva que torne o português como língua de ensino, de edição livreira, e de produtos audiovisuais, em vários países do mundo. Para tal faltam fundos e uma actuação plural concertada e competente.
Mesmo depois de uma fatia significativa da imprensa já estar a aplicar o Acordo Ortográfico, e já depois de se dar como certo que a nova ortografia vai entrar no sistema de ensino em 2011, há, ainda em Portugal, uma resistência feroz às alterações ortográficas residuais preconizadas pelo texto da reforma ortográfica. A ILC (Iniciativa Legislativa de Cidadãos) pugna ainda pela revogação da resolução que estipula a entrada em vigor do Acordo.
Mas há mais: no Facebook contam-se, neste momento, 40 grupos contra o Acordo — com designações que dariam estudos bem interessantes em pragmática linguística: há os assertivos («Pessoas que não se entendem com a hifenização do novo acordo ortográfico»), os justificativos («Se cumpro o acordo ortográfico é porque me enganei...»), os incitativos «(BOICOTE À IMPRENSA QUE ADOPTA O ACORDO ORTOGRÁFICO!»), os expressivos («Que se lixe o Acordo Ortográfico!»), os compromissivos («Nunca hei-de escrever conforme o acordo ortográfico»), etc.
Não há dúvida de que Evanildo Bechara tinha razão: o Acordo é para as gerações futuras.
O Instituto da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), com a colaboração de especialistas africanos em linguística, educação e edição, acaba de publicar o documento "Porque e como África deve investir nas línguas africanas e na educação multilingue".
Pugnar por uma integração no sistema de ensino de línguas nativas e de línguas nacionais/oficiais exige novas abordagens na investigação em aquisição de língua segunda, sociolinguística e psicologia.
Aos poucos, lá vai: depois do anúncio de que os manuais redigidos segundo as normas do novo Acordo Ortográfico vão chegar às escolas no ano lectivo de 2011-2012, o grupo português Impresa anunciou nesta semana que, em parceria com a Priberam, tem pronto o software de apoio à aplicação do Acordo, abrangendo nove publicações: Expresso, Visão, Exame, Exame Informática, Autosport, Caras, Activa, Blitz e Surf Portugal.
Paralelamente, o Instituto Português do Oriente (IPOR) já iniciou em Macau a formação de professores com vista à introdução do Acordo em 2011.
Numa altura em que o grupo editorial português Leya anunciou lançar, já para Setembro, um primeiro pacote de livros electrónicos, com nomes de venda garantida: José Saramago, Mia Couto, José Eduardo Agualusa e António Lobo Antunes, mais uma vez é lançada a pergunta: Será que o livro digital suplantará o livro físico? Entre o saudosismo precoce do cheiro a papel e a tentação do «ao alcance de um clique», os factos, entre eles este: no primeiro dia em que foi lançado o iPad, venderam-se, nas primeiras 24 horas, 250 mil livros.
Depois, há o acesso gratuito e fácil a obras que já saíram de circulação na maioria das livrarias, por exemplo, a História da Língua Portuguesa, de Paul Teyssier, descarregável na e-baH!, ou a Moderna Gramática Portuguesa, de Evanildo Bechara, no Scribd.
Um dos sinais de que um sítio é fraudulento é a concentração invulgar de erros ortográficos. Porém, se os utilizadores não têm uma boa competência ortográfica, de pouco lhes pode servir serem alertados para isso. Uma pesquisa da Opiniões de Valor desenvolvida para VeriSign revelou que 73% dos utilizadores da Internet no Brasil não conseguem identificar os erros ortográficos que denunciariam um sítio destinado a adquirir informações sigilosas (phishing).
Maria do Carmo Vieira, em entrevista ao Público, repudia, mais uma vez, a excessiva presença do texto não literário na sala de aula, prática determinada pelos programas de Português. Não negará, porém, a utilidade de apresentar aos alunos o texto de uma página na Internet cheia de erros ortográficos, prontos a ser corrigidos. E, infelizmente, a escolha não tem de se fazer apenas de entre os sítios fraudulentos, pode mesmo ser feita nos media portugueses, disponíveis em linha.
Este é um espaço de esclarecimento, informação, debate e promoção da língua portuguesa, numa perspetiva de afirmação dos valores culturais dos oito países de língua oficial portuguesa, fundado em 1997. Na diversidade de todos, o mesmo mar por onde navegamos e nos reconhecemos.
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