Aos poucos, lá vai: depois do anúncio de que os manuais redigidos segundo as normas do novo Acordo Ortográfico vão chegar às escolas no ano lectivo de 2011-2012, o grupo português Impresa anunciou nesta semana que, em parceria com a Priberam, tem pronto o software de apoio à aplicação do Acordo, abrangendo nove publicações: Expresso, Visão, Exame, Exame Informática, Autosport, Caras, Activa, Blitz e Surf Portugal.
Paralelamente, o Instituto Português do Oriente (IPOR) já iniciou em Macau a formação de professores com vista à introdução do Acordo em 2011.
Numa altura em que o grupo editorial português Leya anunciou lançar, já para Setembro, um primeiro pacote de livros electrónicos, com nomes de venda garantida: José Saramago, Mia Couto, José Eduardo Agualusa e António Lobo Antunes, mais uma vez é lançada a pergunta: Será que o livro digital suplantará o livro físico? Entre o saudosismo precoce do cheiro a papel e a tentação do «ao alcance de um clique», os factos, entre eles este: no primeiro dia em que foi lançado o iPad, venderam-se, nas primeiras 24 horas, 250 mil livros.
Depois, há o acesso gratuito e fácil a obras que já saíram de circulação na maioria das livrarias, por exemplo, a História da Língua Portuguesa, de Paul Teyssier, descarregável na e-baH!, ou a Moderna Gramática Portuguesa, de Evanildo Bechara, no Scribd.
Um dos sinais de que um sítio é fraudulento é a concentração invulgar de erros ortográficos. Porém, se os utilizadores não têm uma boa competência ortográfica, de pouco lhes pode servir serem alertados para isso. Uma pesquisa da Opiniões de Valor desenvolvida para VeriSign revelou que 73% dos utilizadores da Internet no Brasil não conseguem identificar os erros ortográficos que denunciariam um sítio destinado a adquirir informações sigilosas (phishing).
Maria do Carmo Vieira, em entrevista ao Público, repudia, mais uma vez, a excessiva presença do texto não literário na sala de aula, prática determinada pelos programas de Português. Não negará, porém, a utilidade de apresentar aos alunos o texto de uma página na Internet cheia de erros ortográficos, prontos a ser corrigidos. E, infelizmente, a escolha não tem de se fazer apenas de entre os sítios fraudulentos, pode mesmo ser feita nos media portugueses, disponíveis em linha.
A VIII Cimeira de Chefes de Estado e de Governo da Comunidade de Países de Língua Oficial Portuguesa (CPLP) vai decorrer no dia 23 de Julho em Luanda e tem uma ordem de trabalhos dominada pelo ensejo da Guiné Equatorial, país de língua oficial castelhana, de integrar a Comunidade.
O presidente da Guiné Equatorial, Teodoro Obiang Nguema Mbasogo, no poder desde um golpe de Estado em 1979, é considerado um dos mais cruéis ditadores africanos. A Plataforma Portuguesa das ONG, Transparência e Integridade, Centro de Integridade Pública (Moçambique) e a Liga Guineense de Direitos Humanos publicaram já uma carta aberta aos líderes dos Estados da CPLP onde declaram o repúdio por essa possível adesão. Manuel Alegre, candidato à Presidência de Portugal, também fez uma declaração nesse sentido.
A conferência é marcada também por uma ausência, a do presidente Lula — falta justificada pela grave situação vivida no Brasil, provocada pelas cheias.
1. - É um clássico em linguística, a Gramática Universal de Chomsky: quando a criança adquire uma língua, ela já possui um conhecimento inato do que todas as línguas têm em comum, incluindo o conhecimento sobre os constrangimentos que actuam no modo como cada língua pode, ou não pode, ser construída. É a faculdade de linguagem, uma herança biológica da espécie humana.
Mas, agora, uma investigação levada a cabo por linguistas da Universidade de Northumbria, no Reino Unido, mostra que alguns elementos básicos do inglês não são dominados por falantes nativos.
2. - Mentir a alguém, sobre alguma coisa, com todos os dentes: as preposições indicam-nos o esquema de realização sintáctica do verbo.
Sugerimos a este propósito a (re)leitura do artigo do professor Joaquim Fonseca, da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, intitulado A centralidade do verbo no enunciado.
3. - Finalmente, uma referência aos temas dos programas Língua de Todos e Páginas de Português da semana ora finda. No primeiro, uma evocação do poeta Francisco José Tenreiro, a propósito do 35.º aniversário da independência de São Tomé e Príncipe (RDP África, sexta-feira, dia 9, 13h15*, com repetição no dia seguinte, às 9h15*); e, no segundo, o modismo flash interview (Antena 2, domingo, dia 11, 17h00*, também disponível no sistema podcast da página na Internet da rádio e da televisão públicas portuguesas).
*Hora de Portugal continental
O presidente da República de Portugal, Aníbal Cavaco Silva, de visita a Cabo Verde, trouxe à luz aquilo que vem sendo uma evidência: a ausência, no âmbito dos países lusófonos, de acções efectivas e concertadas com vista à promoção do português: «A carência de recursos humanos que nos permitam responder devidamente às necessidades que comporta o ensino do Português, quer como língua nacional, quer como língua estrangeira, é uma questão que requer um esforço conjunto e solidário no quadro da CPLP.»
Recentemente, o YouTube passou a activar um selo de qualidade – o YouTube Ready – para atestar a correcção linguística das legendas em inglês dos vídeos carregados pelos utilizadores., tal é a gama de erros que aí abunda.
Pois esta é uma iniciativa que se apresenta como um bom exemplo a seguir (e a generalizar) para o português: uma certificação de qualidade tipográfica e linguística para todos os produtos dos media (imprensa incluída), traduzidos para ou criados em português.
Relevamos neste dia um trabalho da agência Lusa sobre três alunos chineses de Português na Universidade de Pequim e na Universidade de Xangai: o que os levou a estudar Português, quais os recursos de que dispõem e que variedade aprendem são alguns dos tópicos que servem de pano de fundo às entrevistas.
As línguas de três países lusófonos presentes na Expo 2010, em Xangai, — Brasil, Cabo Verde e Timor-Leste — são o inglês e o chinês. A Guiné-Bissau até figura como país francófono, com o identificativo «Republique du Guinee-Bissau».
Pergunta-se:
E, finalmente, a pergunta resumativa: Como promover a língua portuguesa se ela não aparece nos eventos internacionais de grande impacto?
Toda a gente sabe que a palavra brasileiro é gentílico e não nome designativo de língua. Mas há a aceitação pacífica, no Brasil pelo menos, do termo português brasileiro. E, por exemplo, a notação «versão brasileira», que aparece nos DVD dos filmes de animação, também não causa grande estranheza aos falantes dos dois lados do oceano. A inconveniência está em que português brasileiro não pode ter como equivalente simétrico a designação português português, pois tal não teria apenas o inconveniente da redundância, como invocaria uma falsa "genuinidade do idioma".
Daí as opções, vulgarizadas, por português de Portugal vs. português do Brasil. Há também quem opte pelas formulações alternativas de português europeu vs. português americano.
Porém, recorrer à menção do continente já não funciona para português de África ou português africano, porque aqui não há apenas um país que tem o português como língua oficial. A solução seria, então, falar em português de Angola, do português de Moçambique, do português de Cabo Verde, português de São Tomé e Príncipe e português da Guiné-Bissau. No entanto, estas designações fazem pressupor uma coisa que não existe, que é o levantamento sistemático dos traços idiossincráticos comuns do português falado em cada um destes territórios nacionais.
Donde se conclui que, mais uma vez, os problemas colocados pela terminologia vão sempre mais além da terminologia...
Este é um espaço de esclarecimento, informação, debate e promoção da língua portuguesa, numa perspetiva de afirmação dos valores culturais dos oito países de língua oficial portuguesa, fundado em 1997. Na diversidade de todos, o mesmo mar por onde navegamos e nos reconhecemos.
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