«As línguas não estatais e as novas tecnologias da informação e da comunicação» é o título do congresso a ter lugar dia 8 de março no Departamento de Línguas e Culturas da Universidade de Aveiro. O congresso aguarda a participação de linguistas, jornalistas, escritores e interessados nas línguas não estatais – neste caso, no aragonês, aranês, asturiano, catalão, galego e mirandês.
O epíteto «animada cumbersa» que lhe é atribuído na página da Universidade de Aveiro promete tudo de bom para um congresso.
A ação judicial que o Ministério Público Federal da Uberlândia levantou contra o Dicionário Houaiss, por considerar que a entrada para cigano contém menções xenófobas, tem pelo menos o mérito de nos levar à reflexão sobre o que é o trabalho do lexicógrafo e, por conseguinte, em que consiste a arte de construção de um dicionário. No caso em apreço, poderia (e deveria) a entrada para cigano deixar de refletir os usos culturais pejorativos que efetivamente têm lugar na comunicação?
«No dia em que registrar os valores depreciativos que certos vocábulos assumiram ao longo do tempo for considerado um crime, nossa língua — ou, melhor, nossa civilização — terá embarcado numa viagem sem volta para a noite escura da desmemória», escreve Cláudio Moreno, no Luis Nassif Online.
Vale a pena ver, por exemplo, o que consta do dicionário em linha Priberam:
«cigano
(talvez do francês antigo cigain, atualmente tsigane ou tzigane)
adj.
1. Relativo a ou próprio dos ciganos (ex. canto cigano). = ZÍNGARO
adj. s. m.
2. Diz-se de ou indivíduo pertencente aos ciganos, povo nómada, de origem asiática, que se espalhou pelo mundo. = MANUCHE, ZÍNGARO
3. [Informal] Que ou aquele leva vida errante.
4. [Informal] Que ou aquele tem arte e graça para captar as vontades.
5. [Pejorativo] Que ou quem age com astúcia para enganar ou burlar alguém. = BURLÃO, IMPOSTOR, TRAPACEIRO, VELHACO
6. [Pejorativo] Que ou aquele é excessivamente agarrado ao dinheiro. = AVARENTO, SOVINA»
Ainda a propósito da ação judicial lançada contra o Dicionário Houaiss, sobre a alegada presença de definições racistas, lê-se na Folha de S. Paulo:
«O Houaiss não tem mais "cigano" na sua versão eletrônica. O sumiço ocorreu após ação do Ministério Público Federal para retirar do dicionário "referências preconceituosas" e "racistas" contra ciganos. Ontem, quem digitasse "cigano" na versão eletrônica do Houaiss, disponível no UOL, empresa controlada pelo Grupo Folha, que edita a Folha, encontrava aviso de que a "palavra não foi encontrada".»
O Ministério Público Federal da Uberlândia interpôs uma ação contra a Editora Objetiva, responsável pela edição do Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, no sentido de impor a imediata retirada de circulação da obra e a suspensão de novas edições. Em causa está na alegada presença de expressões pejorativas em relação a cidadãos de etnia cigana.
Ler também:
MPF de Uberlândia pede que Dicionário Houaiss seja recolhido
MPF vai à Justiça para mudar verbete do Dicionário Houaiss
Deixamos aqui algumas reações às declarações do secretário de Estado da Cultura português, Francisco José Viegas, admitindo alterações ao Acordo Ortográfico nos casos mais controversos das consoantes mudas e das facultatividades previstas no texto que se encontra já em vigor no Brasil e em Portugal. Reações de indignação (por exemplo, do linguista brasileiro Godofredo de Oliveira Neto, membro da Comissão Científica do Instituto Internacional da Língua Portuguesa), de perplexidade (da ex-ministra da Cultura de Portugal Isabel Pires de Lima: «Não vejo como é que poderia voltar atrás»), de preocupação (manifestada pelo professor Carlos Reis), mas também de alguma confusão instalada na escolas portuguesas, onde a nova reforma já está a ser aplicada desde setembro último. E, também, de novo alento para a corrente anti-AO em Portugal.
A Comissão Europeia já confirmou a sua disponibilidade para financiar os próximos dois anos de serviço Euronews em português. O documento oficial reitera a visão de que a Euronews tem um «papel único na cobertura dos assuntos europeus e como promotora do multilinguismo». |
O prémio Autores 2012, promovido pela Sociedade Portuguesa de Autores, foi atribuído ao magazine televisivo Cuidado com a Língua!, na categoria de programas de entretenimento, em cerimónia que decorreu, no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, na noite de 27 de fevereiro.
O programa, com a apresentação do ator Diogo Infante e a locução da jornalista Maria Flor Pedroso, tem a autoria do jornalista José Mário Costa e, como guionista, o jornalista João Lopes Marques, contando, como responsável dos conteúdos linguísticos, com a professora Maria Regina Rocha. A realização é de Ricardo Freitas, e a produção, da Até ao Fim do Mundo. Cuidado com a Língua! leva já sete séries de treze programas cada, emitidos nos diversos canais da televisão pública portuguesa. A 8.ª série, já em preparação, aguarda colocação na grelha da RTP 1.
«Timor é uma ficção lusófona onde a língua portuguesa navega contra uma geração culturalmente integrada na Indonésia, contra a geografia, contra manipulações políticas internas e contra a sabotagem de várias agências internacionais», escrevia Pedro Rosa Mendes em 2008. Desde a adopção, por decreto, em 2002, do português como língua oficial em Timor que se sabia que a criação de estruturas de ensino da língua naquele país tinha de ser robusta, incisiva e abrangente.
Mas entre o saber e o fazer vai um passo de gigante. O facto de a Presidência de Timor-Leste ter recentemente lançado a sua página Web em inglês e tétum, excluindo o português, é apenas um sintoma da passividade dos demais países lusófonos na promoção do português em Timor.
«A importância do português parece consensual, mas onde levará a política de ensino que está a ser seguida?», perguntava Paulo Moura em 2007. A resposta não é agora difícil de obter.
O magazine televisivo Cuidado com a Língua! foi um dos três programas nomeados para o Autores 2012, atribuído pela Sociedade Portuguesa de Autores, em colaboração com a RTP. O programa, com a apresentação do ator Diogo Infante, a locução da jornalista Maria Flor Pedroso, tem a autoria do jornalista José Mário Costa; e, como guionista , o jornalista João Lopes Marques, a consultoria linguística da professora Maria Regina Rocha, contando com a realização de Ricardo Freitas e a produção da Até ao Fim do Mundo). Já foram emitidas sete séries de treze programas cada, emitidos nos diversos canais da televisão pública portuguesa. A 8.ª série, já em preparação, aguarda colocação na grelha da RTP 1.
Em tempos de acesa polémica à roda da aplicação do Acordo Ortográfico em Portugal, os grandes vultos da filologia da língua portuguesa — Lindley Cintra, Celso Cunha, António Houaiss, Rodrigues Lapa, Maria Helena Rocha Pereira — emergem como referência nos artigos da querela. O apelo a nomes consagrados em vários domínios (filologia, linguística, literatura, política) é evidente nos dois novos textos da rubrica Controvérsias: O Acordo 20 anos depois, de Henrique Monteiro, e Questões de Estado de direito, de Vasco Graça Moura.
Este é um espaço de esclarecimento, informação, debate e promoção da língua portuguesa, numa perspetiva de afirmação dos valores culturais dos oito países de língua oficial portuguesa, fundado em 1997. Na diversidade de todos, o mesmo mar por onde navegamos e nos reconhecemos.
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